28/11/2012
Um personagem querido
Já se tornou uma praxe nas plenárias do Comitê do São Francisco. Num momento qualquer da programação o pescador Antonio Gomes dos Santos reivindica a palavra, e em meio a discursos, debates, palestras e exposições técnicas tem início um momento singular, mesclando depoimento, poesia e música.
Do alto dos seus 81 anos, declamando e cantando em alto e bom som, com o seu vozeirão seu Toinho torna-se o centro das atenções. Ignorando solenemente todos os avisos de esgotamento de prazo para as intervenções, ele só encerra a apresentação quando considera transmitida a sua mensagem para os participantes.
E a mensagem é sempre uma renovada declaração de amor ao rio São Francisco e a tudo que constitui a vida do rio: os peixes, os passarinhos, as árvores e também os seres humanos que vivem em íntima relação com o rio – como os pescadores.
Além do amor à natureza, razões objetivas motivam seu Toinho a se engajar na luta pela revitalização do rio. Pescador desde os 12 anos de idade, foi do Velho Chico, conta, que ele tirou o sustento para criar quatro irmãos, nove filhos legítimos e dois filhos adotivos.
A defesa do rio levou-o naturalmente à política. Há 40 anos ele atua em movimentos e entidades da sociedade civil. Participou inicialmente das comunidades eclesiais de base, foi secretário, presidente e vice-presidente da Federação de Pescadores de Alagoas e presidente da Colônia de Pescadores Z-12 de Alagoas.
Um dos fundadores do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF, foi seu membro titular até a gestão encerrada em 2001. Mas nunca se afastou do colegiado. Penedense de origem e de coração, ele não poderia deixar de falar nesta XXII reunião plenária, realizada justamente na sua terra natal, como justificou.
Depois de entoar uma reinterpretação da canção “Riacho do Navio”, de Luiz Gonzaga, incorporando as mazelas da degradação do rio à letra famosa, ele registrou a sua maior tristeza: “Lamento não poder deixar o rio que eu tanto amo de herança para meus filhos e netos”.
Mais uma vez, o Comitê se rendeu à estatura de seu Toinho e respeitosamente lhe concedeu o tempo necessário para falar, cantar e declamar. E ao final, mais uma vez concedeu os merecidos aplausos a um grande lutador da causa do Velho Chico.
Assessoria de Comunicação
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