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07/05/2018

Seca do rio São Francisco deixa rastro desolador no norte de Minas

Consequências são sentidas na economia e na vida da população que depende do Rio São Francisco; turismo teve queda de 60% em seis anos.

A passos rápidos o homem de meia idade puxa o cavalo por uma corda entre as pedras e o matagal que toma conta da área. Mais à frente eles se equilibram para não cair nos filetes de água que restaram do Rio São Francisco, no trecho que passa por Pirapora, cidade do norte de Minas Gerais, a 346 quilômetros de Belo Horizonte.

Desde 2011, a região passa por uma das suas piores secas que além de enxugar o Velho Chico, tirou o ganha-pão de pescadores e esvaziou o bolso de comerciantes de uma cidade que dependia do turismo.
Quem caminha pela avenida principal, que um dia já foi comparada com o calçadão de uma praia, encontra um cenário desolador.

De um lado, que era para ter o rio que corta 507 cidades brasileiras, a água deu lugar a ilhas de assoreamento e pedras que antes não eram vistas. Do outro, comércios e quiosques abandonados. Os que ainda permanecem abertos, atendem uma clientela mínima.

Segundo a Emutur, órgão municipal responsável por administrar o turismo em Pirapora, nos últimos seis anos, a cidade perdeu 60% dos visitantes. Adélio Brasil, diretor de Patrimônio Histórico Cultural e Artístico, lamenta a situação.

“Era muito comum a orla ficar cheia de ônibus de excursão durante os finais de semana, hoje quase ninguém vem pra cá”, diz Brasil.

Assista ao vídeo produzido pelo R7 em 360º :

A escassez também impede o trabalho do barco Benjamim Guimarães, uma das principais atrações da região por décadas. Centenas de turistas conheciam as cidades vizinhas nos passeios realizados nos finais de semana na embarcação que é a única movida a vapor em atividade no Brasil, segundo o Iepha-MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico). Há três anos, o Benjamim Guimarães está atracado por falta de navegabilidade, já que em parte do percurso a água não chega ao 1,20 m necessário para o barco não atolar.

O salto do peixe

O nome Pirapora, de origem indígena, significa “o salto do peixe”. A cidade que tem 56.706 habitantes foi assim batizada devido à grande quantidade dos animais que movimentavam as águas do rio com seus pulos rumo à cabeceira durante o período de piracema. O pescador Reinaldo dos Santos, conhecido como Moranga, conta que o que já foi fonte de beleza e renda na cidade, hoje dificilmente se torna alimento na mesa.

“Antigamente a gente saía para pescar, fazia o plano de ficar seis ou sete dias e voltava após dois dias, porque conseguia pegar uma grande quantidade”, diz Moranga. “Hoje, a gente sobe para ficar cinco dias, fica 8 dias e não pega a metade do que pegava antes.”

Durante os três dias que a reportagem do R7 percorreu Pirapora, a equipe não conseguiu acompanhar nenhum pescador retirando peixes do rio. Apenas uma peixaria visitada tinha o produto à venda, mas todos eles havia sido pescados na cidade de Olímpia, em São Paulo.

Baiano de Juazeiro, Moranga mora em Pirapora há 40 anos. Ele vive com a mulher em uma casa feita com o casco de um pequeno barco que não chega a dois metros de altura, à beira do rio São Francisco. Ele lembra da época em que a seca não era realidade.

“Antes tinha até o dia da enchente de São José. Era dia 19 de março”, diz. “Costumava chover três dias antes e três dias depois. Era muita água.”

Causas

Uma das razões para a chuva da memória de Moranga não existir mais é a influência do fenômeno atmosférico-oceânico El Niño, que provocou alterações climáticas em várias partes do mundo nos últimos anos. A média de precipitação na região caiu de 1.000 mm por ano para 500 mm, desde 2011.

Embora seja um fenômeno cíclico, ele pode ter consequências dificilmente reversíveis, aponta o engenheiro agrônomo Flávio Pimenta, que é professor de recursos hídricos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Segundo o pesquisador, a intervenção humana dificulta a recuperação do rio, mesmo que as chuvas voltem. “No início das chuvas, os afluentes conseguiam se recuperar com muita facilidade”, diz Pimenta. “Porém, as nascentes e áreas de recarga do rio estão lastimáveis. Extremamente degradadas”.

As margens do rio sofrem com atividade de mineração, desmatamento, plantio de monocultura e retirada desordenada de água acima do permitido. Assim, o solo não consegue segurar a água da chuva.

Para tentar reverter o quadro crítico do rio que passa por cinco Estados brasileiros, o Governo Federal lançou em 2016 um programa de revitalização chamado Plano Novo Chico.

A previsão é de investir R$ 7 bilhões até 2026 nas áreas de saneamento, controle de poluição e obras hídricas; economias sustentáveis; gestão e educação ambiental; planejamento e monitoramento; e proteção e uso de recursos naturais.

Apesar dos projetos, segundo Ahsfra (Administração Hidroviária do São Francisco), ainda não há previsão para a cidade de Pirapora receber obras de desassoreamento. Enquanto isso, a população e pescadores como Moranga rezam pela chuva para amenizar o sofrimento.

“Se a gente for pensar muito a gente fica doido e não pesca”, diz Moranga. “O jeito é arrumar outra atividade e pedir a Deus pra abençoar”.

Fonte: R7

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