22/08/2018
Rio Salitre: diferentes atores sociais falam sobre Projeto Hidroambiental realizado pelo CBHSF
“O rio mudou. Na minha infância, era diferente, era cheio de água, de poço. Agora, aterrou tudo e tem chovido muito pouco”. A fala é de Vanderlino Pessoa Bastos, 80 anos. O rio em questão é o Salitre, afluente baiano do São Francisco. Ao longo de toda sua vida, Seu Nego, como é conhecido, viu o rio em várias fases. Seus netos e bisnetos, por sua vez, só conheceram uma realidade: o rio sem água.
O caminho para que o futuro seja diferente, com o rio vivo, passa por ações concretas de revitalização e mobilização. Neste contexto, o Projeto Hidroambiental da Bacia do Rio Salitre, promovido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), em Morro do Chapéu, na Bahia, representa um avanço rumo a dias melhores.
José Venícius Rosa de Jesus, geógrafo e encarregado de obras da empresa Localmaq, responsável pela execução do Projeto, concorda: “por conta das barraginhas, passou a surgir água em uma nascente que estava seca há 30 anos. Estamos no semiárido e a água aqui é preciosa. Os terraços e as barraginhas são bem interessantes para essa região de relevo cárstico, porque você tem um abastecimento muito rápido do lençol freático. Então, essas águas que iriam escoar, passam a infiltrar”.
Venícius, como gosta de ser chamado, destaca outro ponto forte do Projeto: o sentimento de pertencimento e a vontade de cuidar do rio foram estimulados, mobilizando comunidades e envolvendo diferentes gerações. “Investimos em educação ambiental e em ações para enfrentar o quadro de escassez hídrica, para que o Salitre possa se recuperar com o apoio de quem vive na região”, conclui.
Quem também faz uma avaliação positiva é a educadora Tamara Mirna Oliveira Santana, 42 anos. “Creio que o Rio Salitre pode voltar a ser o que era antes. Vai depender de nós. O Projeto contribuiu para o aumento da conscientização sobre o meio ambiente que nos cerca, envolvendo escola, alunos e pais”, frisa.
Tâmara, assim como Seu Nego, vive na Comunidade do Brejão, zona rural do município de Morro do Chapéu, onde moram quase 160 famílias beneficiadas pelas intervenções do Comitê – que utilizou recursos oriundos da cobrança pelo uso das águas para viabilizar as atividades. Foram investidos, por exemplo, mais de R$ 630 mil em instalação de cercas de proteção de nascentes, construção de barraginhas e paliçadas de pedra, readequação de terrenos (terraço) e mobilização e conscientização ambiental.
Vanderlino Pessoa Bastos, Seu Nego (à esquerda); Tamara Mirna Oliveira Santana (à direita). Crédito: Manuela Cavadas
Além de Brejão, outros povoados da região também foram contemplados: Várzea Grande, Jaracarezinho, Cercado Santo, Tamboril, Formosa, Gaspar e Mulungú do Jubilino compõem a lista.
O que foi feito?
Entre os resultados, estão: conservação e recuperação de 190 hectares de áreas degradadas; 1.916 metros de nascentes protegidas; 111.000 metros de estradas rurais com adequações e 848 bacias de contenção de água pluviais, conhecidas como barraginhas. Mais de 1200 pessoas foram impactadas.
Luiz Alberto Rodrigues Dourado, membro titular do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e morador de Morro do Chapéu, destaca que, tendo em vista o êxito das primeiras fases, concluídas em 2013 e 2016, respectivamente, há uma demanda para que seja realizada a terceira etapa, contemplando uma passagem molhada para a comunidade de Brejão.
“Morro do Chapéu é um dos destinos turísticos mais promissores da Bahia e precisa de saneamento e obras hidroambientais como as que foram realizadas aqui, para que o Rio Salitre possa ser corrente, ajudando no desenvolvimento de toda a região”, diz.
Para Manoel Ailton Rodrigues de Carvalho, presidente do Comitê da Bacia do Rio Salitre e presidente da Associação Quilombola do Povoado de São Tomé, no município de Campo Formoso, próximo à Morro do Chapéu, sustentabilidade é palavra-chave para a perpetuação das melhorias na região: “ninguém vive sem água, precisamos muito da educação ambiental. A falta de chuva, por si só, já é consequência do mau uso da terra. Aqui, dialogamos com a comunidade, buscamos sensibilizar e mobilizar. Precisamos mudar paradigmas, incentivar iniciativas sustentáveis.”
Veja as fotos das obras e região:
Rio Salitre
A bacia hidrográfica do Rio Salitre, cujas primeiras nascentes encontram-se no município de Morro do Chapéu, é uma sub-bacia hidrográfica do Rio São Francisco, situada no centro-norte do Estado da Bahia, com uma área de 13.467,93 km2 e perímetro de 640 km.
Assista ao vídeo sobre os projetos em Morro do Chapéu:
*Texto: Andréia Vitório
*Fotos: Manuela Cavadas
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