07/06/2017
O São Francisco precisa de nós em Ibotirama
Em Ibotirama, no oeste da Bahia, o Dia Nacional em Defesa do São Francisco, ganhou a adesão de crianças, adolescentes e muitos jovens, numa caminhada regada a Luiz Gonzaga e Mastruz com Leite
Texto: Karla Monteiro
“Tenho 15 anos e nunca banhei no São Francisco. O esgoto cai direto no rio, no centro da cidade. Isso não é direito. Estou aqui para pedir às autoridades pelo menos isso: uma rede de esgoto”, disse Stephanie Gabriella. “Por que estou aqui? Porque o rio é nossa fonte de vida. Sem ele, a gente não cozinha, não lava, não banha, não vive”, ressaltou Vanessa Souza de Oliveira, também de 15 anos. “Se a gente não lutar, a nossa água vai acabar”, completou Gisele Santos, 14 , ao lado da amiga Mirele Silva Santos, 16: “O São Francisco precisa de nós”.
Em Ibotirama, cidade de 25 mil habitantes, no oeste da Bahia, a caminhada ecológica foi o ponto alto do Dia Nacional em Defesa do São Francisco. Carregando cartazes e entoando hinos ao Velho Chico – de Luiz Gonzaga e Mastruz com Leite, a turma partiu animada da Câmara Municipal em direção ao cais. Crianças e adolescentes, como Stephanie, Vanessa, Mirele e Gisele, ou idosos como dona Maria das Dores Alves, 76, todos estavam ali dispostos a virar carranca: “Nunca vi o rio deste jeito. Quando eu era moça, a gente não banhava nele com medo de tanta água. Agora é medo de tanta sujeira. Se continuar deste jeito, meus netos vão ver o fim. E o fim dele, é o fim da gente”.
O dia 3 de junho já amanheceu com a campanha “Eu viro carranca pra defender o Velho Chico” agitando a cidade. O primeiro evento aconteceu na Câmara de Vereadores. Em audiência pública, foi apresentada à população, que lotou todos os assentos do plenário, o projeto de lei aprovado no dia 26 de maio, instituindo, no calendário de eventos de Ibotirama, o Dia Municipal em Defesa do São Francisco.
“Nosso intuito é tornar notória a nossa causa, que é defesa do nosso rio. Indiretamente até o governo estadual contribui para a poluição do rio, quando não a Embasa trata de forma inadequada o esgoto”, declarou o vereador Jean Charles Alexandre, presidente da Câmara.
Um apaixonado defensor da Caatinga, o diretor da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco, Ednaldo campos aproveitou a solenidade para lembrar o mote da campanha de 2017: “A Caatinga chegou no limite. Temos que recatingar as áreas desnudas. Gosto de usar o termo recatingar, para enfatizar que este é o único bioma exclusivamente brasileiro e está desaparecendo”.
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Além de celebrar a Caatinga, Ednaldo também enumerou os algozes do São Francisco: “O São Francisco está numa situação de penúria. Destaco como um problema urgente o uso de água subterrânea para irrigação. Estão acabando com os nossos aquíferos. Na região do semiárido, ao invés de monoculturas, teríamos que priorizar culturas como menos necessidade de água”.
No começo da tarde, duas horas antes do início da caminhada ecológica, o público voltou a ocupar a Câmara de Vereadores. Uma audiência pública reuniu a diretoria da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco com os CBHs baianos. Participaram do encontro Ednaldo Campos, João da Conceição Santos, do CCR do Alto, Simone Sodré, da Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia, Adão Moreira Paiva, do CBH do Verde e Jacaré, João Batista Soares Ferreira, do CBH do Corrente, Anselmo Barbosa, do CBH Parnamirim e Santo Onofre, Demerval Gervásio Oliveira, também do Parnamirim e Santo Onofre, e Elisa Zanella, do CBH do Grande. A reunião teve o objetivo de juntar forças para garantir a sustentabilidade do São Francisco e afluentes.
Por volta das quatro da tarde, assim que terminou a audiência pública, uma pequena multidão se juntou para seguir para o cais, à beira do Velho Chico, onde uma série de shows de artistas locais e a apresentação da peça “Carranca” encerraram o dia de luta.
“Nasci em Ibotirama, passei a infância e adolescência em São Paulo e, há 10 anos, voltei. Sou artista visual, com formação. Quando cheguei aqui, vendo os mestres trabalhares as carrancas, decidi me dedicar ao ofício de carranqueiro. Estou achando linha uma campanha intitulada ‘Eu viro carranca para defender o Velho Chico”, declarou o artista Eugênio Oliveira, 28 anos.
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