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31/01/2013

Grupo discute o uso múltiplo das águas do São Francisco e a adoção da vazão ambiental

Durante a sua nona reunião, desde que foi criado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF em 2008, o Grupo de Trabalho Permanente de Acompanhamento da Operação Hidráulica na Bacia do Rio São Francisco – GTOSF, reafirmou nesta quarta-feira (30.1), em Brasília (DF), a necessidade de os usuários das águas do rio pactuarem uma forma sustentável de uso, capaz de contemplar todos os segmentos produtivos e também o ecossistema aquático.

Os integrantes do grupo discutiram a possibilidade de rever as restrições já vigentes para as operações hidráulicas, bem como a importância de iniciar o processo de discussão entre os usuários, com vistas ao estabelecimento de um Pacto das Águas, ou seja, a definição de usos compatíveis para os diversos segmentos, tais como hidrelétricas, irrigantes, empresas de saneamento, indústrias, navegação e pesca, de modo a assegurar também a sobrevivência dos seres vivos que formam a biota do rio.

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Com essa finalidade, ainda neste trimestre o Comitê do São Francisco dará início à mobilização dos diversos segmentos que compõem o colegiado, principalmente usuários, com a promoção de oficinas regionais. A discussão política do assunto deverá se sustentar tecnicamente na definição de uma vazão ambiental para o rio São Francisco, a ser fixada em hidrogramas capazes de viabilizar o uso múltiplo. A vazão a ser proposta para o rio deve constar do próximo Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia do Rio São Francisco.

Nesse sentido, o GTOSF estará sugerindo ao Comitê que disponibilize aos seus 62 membros os estudos sobre a vazão ambiental do rio, que estão sendo desenvolvidos pela rede Hidroeco, formada por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia – UFBA, Universidade Federal do Recôncavo – UFRB, Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP, Universidade Estadual Paulista – Unesp e Universidade Federal de Santa Maria – UFSM.

A sugestão inclui também a apresentação desses estudos aos participantes das oficinas, que deverão começar pelas regiões que têm sido mais impactadas ambientalmente – o Baixo e o Submédio São Francisco. O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco – Carlos Eduardo Ribeiro Junior, explicou que o objetivo é levar os participantes a se apropriarem da temática e se posicionarem em relação ao hidrograma proposto pelas instituições de pesquisa acadêmica, de modo a fazer emergir o Pacto das Águas.

“Nas oficinas todos os segmentos discutirão a sua visão de futuro para o rio. Evidentemente o São Francisco nunca mais voltará a ser o que era. Mas pode ficar menos pior do que está”.

Novas fontes energéticas

Durante a reunião, os integrantes do GTOSF abordaram as perspectivas que se apresentam atualmente como tendências para a matriz energética do Brasil, particularmente para o atendimento à demanda do Nordeste. Os cenários futuros apontam para o crescimento da geração térmica, eólica e solar na região, conforme avaliou o gerente do núcleo Norte-Nordeste do Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, Giovanni Acioli:

“A geração hidráulica não vai ter implementações maiores. O atendimento à carga do Nordeste no futuro virá da energia hidroelétrica trazida do Norte e da geração de energia eólica. Embora envolva maior complexidade operacional, porque depende dos ventos, a energia eólica é uma tendência. Já temos no Brasil quase 1 mil megawatts de potência eólica instalada, dos quais 300 no Nordeste. Hoje há 13 centrais eólicas instaladas, em 2013 deverão ser 80 e em 2014 deverão ser da ordem de 160”.

A análise do gerente do ONS é coincidente com a da engenheira hidróloga da Chesf e coordenadora do GTOSF, Patricia Maia e Silva. Ela assinala o crescimento sobretudo da geração térmica e eólica, com a progressiva relativização, a longo prazo, da prioridade atualmente conferida à geração hidroelétrica.

Esse cenário, observa, poderá repercutir na questão que se apresenta agora para os usuários do rio São Francisco, qual seja, o estabelecimento de uma vazão ambiental. Exemplificando, ela diz que “a adoção de hidrogramas ambientais representará custos para o setor elétrico, impactando na geração hidráulica, que hoje é prioritária para a Bacia do Rio São Francisco. No entanto, a longo prazo, esta fonte de geração poderá ser compensada com outras fontes, a exemplo da térmica e eólica”.

Diante das tendências que se projetam para a matriz energética, a professora da Universidade Federal da Bahia – UFBA, Yvonilde Medeiros, vislumbrou perspectivas favoráveis à adoção de uma vazão ambiental no São Francisco. “Considerando a disponibilidade de outras fontes energéticas e de tecnologias avançadas, poderemos então, a partir de agora, nos preocuparmos com o meio ambiente, que tem sido tão explorado”, concluiu.

 

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