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11/07/2016

Entrevista: Andréa Fontes

Andrea-Fontes-entrevista

A realização do I Simpósio da Bacia do Rio São Francisco, de 5 a 9 de junho, em Juazeiro (BA), abriu portas para o diálogo entre as inúmeras instituições de ensino que se dedicam a estudar o Velho Chico sob diferentes aspectos. Nesta entrevista, a professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (URFRB) e coordenadora acadêmica do evento, Andréa Fontes, faz um resumo dos trabalhos apresentados e aponta os futuros desafios para a classe acadêmica.

Não adianta eu estar fazendo estudos simplesmente porque eu acho que aquilo é importante. É fundamental que a gente faça a pesquisa porque a sociedade quer, porque a bacia está precisando. Então, a demanda que o Comitê traz ao pesquisador é essencial. Na verdade, a ciência está ajudando a sociedade.

Que balanço a senhora faz desses três dias de debates?
As discussões resultaram em avanços que foram além do conteúdo. Na verdade, como já dizia o tema do Simpósio, “Integrando Conhecimento em Defesa do Velho Chico”, estabeleceu-se uma enorme junção de pensamentos. No nivelamento, que aconteceu no primeiro dia, as apresentações trouxeram contribuições da situação do rio e as pessoas presentes aprenderam e trocaram informações. No segundo dia, na apresentação dos trabalhos, comprovamos essa troca de experiências.

Pudemos identificar o grande diferencial do evento: nós, pesquisadores, não trabalhamos apenas os recursos hídricos. Como engenheira, eu não estou trabalhando unicamente drenagem urbana ou qualidade da água. Estou trabalhando, juntamente com vários outros estudiosos, visões totalmente distintas a respeito de um rio… e conseguimos que um ouvisse o outro. Em outros eventos isso não é oportunizado. Para mim, foi um grande avanço. Aprendi sobre dimensão social, conservação e vegetação nativa da bacia. O primeiro avanço que conseguimos foi exatamente a integração de todos.

E o segundo avanço?
A outra questão foi a composição dos grupos de trabalho. No Simpósio foram apresentados os resultados dos estudos como um pontapé inicial para as discussões. Os compromissos do último dia nos fizeram perceber que valeu a pena realizar o encontro. Firmamos o compromisso de criar um banco de produções em parceria com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Tivemos também o compromisso de anunciar um segundo evento para 2018, em Aracaju (SE).

Outro compromisso será a articulação com as fundações de apoio à pesquisa. Durante a programação do Simpósio, algumas representações de estados falaram sobre o assunto. Além disso, o encontro permitiu uma grande articulação com base no Plano de Recursos da Bacia, que está sendo concluído pelo Comitê. Saímos daqui com vários parceiros. Não voltaremos para casa sem identificar o que pode ser feito. Vamos identificar e produzir.

Existe a pretensão de cadastrar essas produções científicas?
O próximo passo será a elaboração de um relatório, para que nós possamos viabilizar esse banco de produções e, dentro do Comitê do São Francisco, que é o promotor do evento, disponibilizarmos o cadastro de publicações, que é bastante dinâmico. Hoje, a produção é dinâmica. Não posso dizer que sabemos do estado da arte de todas as produções. Amanhã poderá ser publicado um novo trabalho, então, esse banco de dados vai ser dinâmico, atualizado a cada dia. Aqui também sensibilizamos os pesquisadores para colocarem seus estudos nesse banco de dados. Para um segundo evento, a gente espera que esse conjunto de pesquisas seja ampliado e, assim, tenhamos uma fotografia melhor do que está sendo produzido. A conexão com o plano da bacia, que vem sendo atualizado pelo CBHSF, vai direcionar quais são as lacunas nos trabalhos. A Academia chega para ajudar.

Neste Simpósio foram identificados os pontos de estudo prioritários para a resolução de problemas críticos da bacia?
Para um diagnóstico mais preciso, ainda não foi possível chegar a tal conclusão. Mas vimos que a questão da qualidade da água foi um ponto bastante discutido e trabalhado, especialmente na região do Alto São Francisco, em Minas Gerais. Como estamos iniciando a investigação, ainda é bastante prematuro afirmar qual a prioridade da bacia. Conseguimos entender o que nós, na qualidade de pesquisadores, precisamos identificar como pontos mais urgentes.

Como se dá a participação do Comitê do São Francisco junto às universidades?
É essencial. A Academia realiza pesquisas que têm que retornar para a sociedade. E o CBHSF traz o que é necessário para a população do rio São Francisco. Não adianta eu estar fazendo estudos simplesmente porque eu acho que aquilo é importante. É fundamental que a gente faça a pesquisa porque a sociedade quer, porque a bacia está precisando. Então, a demanda que o Comitê traz ao pesquisador é essencial. Na verdade, a ciência está ajudando a sociedade. É a junção perfeita: o que se quer e o que a Academia pode ajudar a fazer.

O Comitê acaba sendo uma espécie de demandante das pesquisas sobre o rio?
Sim. Porque, hoje, quem mais sabe do que o rio São Francisco precisa, até em razão do diagnóstico que o plano da bacia apresenta, é o CBHSF. Então, ele sabe também quais são as demandas prioritárias. A gente agrega o conhecimento. A partir dessa articulação de conhecimentos, vamos avançar para efetivamente cuidar do rio.

O relatório sai em 60 dias, contando a partir do dia 9 de junho. Como funcionará daqui pra frente?
O relatório será apresentado ao Fórum Permanente de Pesquisadores da Bacia do Rio São Francisco, que reúne universidades de todo o País, e posteriormente será encaminhado ao Comitê do São Francisco, proponente do evento. A partir desse relatório, a proposta é promover o diálogo com as agências de fomento à pesquisa para que, futuramente, possamos viabilizar investimentos nos estudos aqui apresentados

 

ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF

*Esta matéria foi veiculada no Jornal Notícias do São Francisco nº 44. Para ler o jornal completo, acesse.

 

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