03/09/2018
Emoção e festa na entrega da estrada de acesso a quilombo em Sergipe
Emoção, risos e lágrimas, agradecimento e festa. Assim foi o sábado (1º de setembro) no quilombo Brejão dos Negros, no povoado Resina, município de Brejo Grande (SE). O motivo foi a entrega da estrada de acesso à localidade, financiada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), que contribui para facilitar o trânsito das pessoas, escoamento da produção e atendimento médico. A pequena Ariana Rosa dos Santos, de 11 anos, resumiu bem a importância da obra para o quilombo.
Ariana é portadora de anemia falciforme e levou o público às lágrimas com seu relato. “Várias vezes, meu pai precisou sair comigo ou com meu irmão, que tem a mesma doença, à noite, durante as madrugadas, pelo rio, para conseguir atendimento médico. Quero agradecer a quem permitiu a construção dessa estrada, que vai permitir que a gente chegue ao médico mais rápido e com menos sofrimento”, relatou ela com os olhos marejados e a plateia em choro contido. A estrada, de pouco mais de 900 metros de extensão, é a entrega da cidadania a uma comunidade instalada às margens do Rio São Francisco, mas tão distante de serviços básicos.
A presidente da Associação dos Moradores da localidade, Maria Aparecida Xavier, disse que a estrada representa o atendimento de uma luta de, pelo menos, 15 anos. Magno de Oliveira Barros, quilombola, disse que a comunidade não tem palavras para agradecer a ação do Comitê. “Essa é a estrada da liberdade”, resumiu ele. Outro representante da comunidade, Enéias Rosa, anunciou que o projeto para a construção de 41 casas populares, cujo processo estava parado devido à dificuldade para o transporte do material, será realizado a partir desse mês.
O acesso terrestre abre novas possibilidades para o quilombo. Antes, a pequena produção do beneficiamento do coco, não conseguia sair facilmente da localidade. Dependia de pequenas embarcações, assim como as peças artesanais e a pesca. A partir de agora, o investimento de pouco mais de R$ 600 mil por parte do CBHSF irá permitir uma mudança de vida na localidade. “Tudo começou com as demandas apresentadas pelo Ministério Público Federal e pelo Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], que apresentaram a demanda ao Comitê. Não limitamos esforços para atender. São comunidades como esta que são os principais aliados na preservação da vegetação e da vida”, disse o presidente do Comitê, Anivaldo Miranda.
O presidente do colegiado reforçou a necessidade de a comunidade se manter unida pela preservação do chamado rio da integração nacional. “Essa obra é a entrega da cidadania a uma comunidade esquecida, mas que o Comitê valoriza. São os quilombolas, os índios, os pescadores, fundamentais na preservação do nosso Velho Chico, por isso o Comitê tem um carinho especial com essas comunidades”, acrescentou Miranda. O presidente do CBHSF anunciou ainda a disponibilidade do colegiado em promover um trabalho de educação ambiental na região. “Porque nenhuma nação cresce sem sustentabilidade”, concluiu.
O coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Baixo São Francisco, Honey Gama, reforçou que o trabalho do Comitê não se resume à estrada construída e, agora, entregue. “Temos um olhar especial e diferenciado para essa região. Por isso, estamos realizando o diagnóstico na bacia do Rio Betume, com vistas a promover a recuperação de nascentes nessa região”, lembrou Gama. Membro do CBHSF, Antônio Jackson Borges, salientou que a entrega da estrada é entrega de cidadania.
A procuradora federal Lívia Tinoco disse que a ação do Comitê favorece o empoderamento da comunidade e lamentou que não tenha obtido o mesmo apoio da prefeitura municipal nem do governo do estado. O presidente da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Denildo Rodrigues de Moraes, o Bico, destacou que a estrada entregue pelo Comitê tira a comunidade da invisibilidade. A coordenadora de regularização fundiária do Incra/SE, Sany Mota, reforçou que o Comitê foi o parceiro mais acessível para atendimento das demandas do quilombo Brejão dos Negros.
Confira as fotos do evento:
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) recebe os recursos provenientes da cobrança pelo uso da água bruta do rio São Francisco. Parte do valor é revertido para ações dentro da própria bacia hidrográfica, daí são realizadas as ações de recuperação hidroambiental, recuperação de nascentes, entre outras.
*Texto: Delane Barros
*Fotos: Edson Oliveira
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