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18/10/2017

Dois dedos de prosa com Julianeli Tolentino de Lima

Reitor da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Julianeli Tolentino de Lima, que assumiu pela primeira vez a Câmara Consultiva Regional (CCR) Submédio São Francisco, além de acreditar na interação entre profissionais das mais diversas áreas para garantir o conhecimento sobre a sustentabilidade do Rio, vê na educação ambiental e na união da sociedade o ponto comum para a revitalização efetiva da bacia.

Educador por formação, como sua trajetória na educação contribui com as discussões sobre o Rio São Francisco e por que assumir a coordenação da CCR Submédio São Francisco?

Sertanejo de criação, vivi e experimentei os dois lados da vida no semiárido nordestino, nas épocas de inverno e de seca e, agregando a essa experiência, a vida acadêmica me proporcionou a interação com profissionais de áreas que estão diretamente relacionadas com a sustentabilidade do Rio São Francisco e de toda a bacia hidrográfica. Foi exatamente diante dessas observações e experiência que decidi, como representante de uma instituição de ensino superior pública, pleitear um assento no CBHSF, visando inserir a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) nas discussões em torno do Velho Chico, especialmente no tocante ao apoio à execução do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica, envolvendo a comunidade acadêmica e o saber científico especializado.

Temos na região do Submédio São Francisco um trecho com características fortes na produção irrigada. Como lidar com o desafio de conscientizar os grandes produtores na região do Vale do São Francisco sobre a importância do Dia do Rio?

Mesmo nos momentos em que o Rio São Francisco se encontrava em melhor situação, sempre falei que deveríamos cada vez mais trabalhar no sentido de conscientizar as pessoas a fazerem uso sustentável desse importantíssimo manancial, independentemente de ser um cidadão comum, um pequeno agricultor ou um grande produtor, todos precisam ter claramente a consciência de que o Rio é muito importante em vários aspectos, que vão além do econômico, incluindo o sociocultural. Não é diferente agora, especialmente diante de tão crítica situação, onde devemos mobilizar cada vez mais pessoas e instituições visando a reversão desse estado. Muitos pedem chuva, ajuda divina! Mas, considero que tudo o que vivenciamos não é acaso, é fruto da ação humana ao longo da calha do Rio e seus afluentes. Para revertermos essa situação, além das campanhas simbólicas, será preciso muito investimento, será preciso a revitalização, ações de educação ambiental, o uso sustentável e o envolvimento de toda a população, em especial a ribeirinha, visando manter o Rio vivo e oferecendo água em abundância e com qualidade.

Quais seriam os maiores problemas identificados na região do Submédio São Francisco para preservar o rio que passa pelos trechos urbanos?

 Não são poucos! Mas, especialmente na região abrangida pela nossa CCR, podemos elencar a baixa eficiência das metodologias de irrigação, a captação irregular de água, o lançamento de esgotos in natura e lixo no São Francisco.

Há um movimento espontâneo da população na região pela revitalização. Cada vez mais vozes se unem sobre a sua urgência. Como esses movimentos podem surtir efeitos a fim de pressionar o Governo Federal para ações efetivas?

São manifestações importantes, e que já vem causando mobilização do governo federal neste sentido, mas é preciso essencialmente ações eficientes, a exemplo do aporte de recursos para investimentos no processo de revitalização, dentre eles, o custeio das ações previstas no Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, já apresentado pelo CBHSF ao governo federal, tratando de diretrizes que viabilizarão a revitalização, mas que, sem o real interesse político e dedicação constante por parte dos nossos representantes, poderá não representar um meio efetivo para que tenhamos a verdadeira revitalização do Rio.

A transposição do Rio São Francisco, que ainda não atinge seu objetivo proposto, foi duramente criticada pelos impactos que provocariam na bacia. O que dizer sobre uma nova proposta de transposição, agora no sentido inverso, do Rio Tocantins para o São Francisco?

Devemos sempre aprender com os acertos, mas principalmente com os erros. O CBHSF foi favorável ao projeto de integração das bacias do São Francisco com as do Nordeste Setentrional, especificamente o eixo leste. Há ainda muito a se observar para que se chegue a conclusão de que foi um projeto eficiente de acordo com as metas estabelecidas na sua elaboração. De modo particular e ainda sem conhecer a fundo a nova proposta, não vejo como algo que “vem para salvar o Rio São Francisco”, especialmente diante da situação do próprio Rio Tocantins, e o volume de água que se pretende captar e transpor ao Rio São Francisco. Na minha opinião, como já falei anteriormente, ações de educação ambiental, recuperação de nascentes e aquíferos, proteção da mata ciliar, fiscalização das captações irregulares de água, inibição do lançamento de esgotos in natura e lixo no Rio, sempre com o envolvimento de todo a população, especialmente dos municípios que estão na calha do Rio São Francisco e dos seus afluentes, são ações mais eficazes.

 

Por Juciana Cavalcante

Fotos: Juciana Cavalcante

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