11/05/2017
Dois dedos de prosa com Anivaldo Miranda
Em sua segunda gestão à frente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), o jornalista e ambientalista Anivaldo Miranda conta sobre as mazelas do rio e as propostas para revitalizar e preservar o São Francisco. E também sobre Luiz Gonzaga, “esse gênio que, como ninguém, apresentou ao Brasil a profunda beleza e, ao mesmo tempo, a pungente realidade do semiárido brasileiro”.
Quais as questões prioritárias do São Francisco hoje?
Desmatamento dos biomas do cerrado e da caatinga; uso desordenado das águas superficiais e subterrâneas que alimentam os principais aquíferos da bacia hidrográfica, notadamente o aquífero Urucuia; baixíssimo grau de implementação, pelos governos estaduais, dos instrumentos de gestão hídrica no contexto da bacia; falta de saneamento básico nas cidades ribeirinhas.
O senhor está no começo de um novo ciclo. Quais os pilares da nova gestão?
O foco principal da nossa gestão é fortalecer o CBHSF para que possa, de fato, assumir todas as prerrogativas que a ele estão assinaladas na Lei 9.433, a Lei das Águas. Para este objetivo, temos feito uma bela construção coletiva. Com pouco mais de uma década de existência, o CBHSF começou a implementar seu segundo plano de gestão hídrica, implantou a cobrança pelo uso das águas do São Francisco, está em seu segundo plano plurianual de aplicação dos recursos oriundos dessa cobrança, elaborou e está aplicando uma eficiente metodologia para tratar dos conflitos de uso das águas em primeira instância, é o maior investidor na elaboração de Plano Municipais de Saneamento Básico na bacia hidrográfica e um sem fim de outras conquistas.
No Brasil, foca-se muito na doença e pouco na causa. Qual a postura do Comitê diante do desafio de educar a população para a preservação?
Cada dia mais ganha corpo a percepção de que os grandes desafios da crise ambiental mundial não poderão ser resolvidos isoladamente pelo poder de Estado. A grande batalha pela educação ambiental é como todas as outras: só será vencida se os governos derem as mãos aos usuários das águas e à sociedade civil para tornar realidade o princípio da gestão hídrica e ambiental compartilhada, com forte abertura da burocracia, do poder econômico e da sociedade civil rumo a uma cultura participativa na solução dos problemas da água e do meio ambiente, com forte acento nas iniciativas da educação ambiental massiva e sistemática.
O que, afinal, o cidadão comum pode fazer para ajudar a preservar o São Francisco?
Se o ribeirinho lutar pelo saneamento básico de sua cidade ou povoado; se o agricultor melhorar as técnicas de irrigação e uso com preservação dos solos e das águas sem contaminação; se o acadêmico orientar as pesquisas para recuperação hidro-ambiental; se o político exigir do governo federal a “Revitalização do Velho Chico”; se o industrial tratar adequadamente os efluentes de sua indústria; e assim por diante…
O São Francisco é, no imaginário coletivo do país, um personagem, com alma, voz, sentimento. Qual o artista que melhor representa este rio para o senhor?
Luiz Gonzaga, esse gênio que, como ninguém, apresentou ao Brasil a profunda beleza e, ao mesmo tempo, a pungente realidade do semiárido brasileiro. Quando compôs “Riacho do Navio”, talvez nem imaginasse que dia essa canção viesse a ter tanto significado. E muito menos imaginaria que, agora, o Velho Chico já não bate mais “no meio do mar.” Infelizmente é o mar que está “batendo” cada vez mais no rio.
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