05/09/2014
Comunidade do Salitre faz ressalvas a eixo da transposição do Velho Chico
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre realizou uma movimentada plenária nesta quinta-feira, 04/09, em Caatinga do Moura, distrito de Jacobina, no Submédio São Francisco. A reunião contou com cerca de 50 pessoas, um público que refletiu a pluralidade de representações do Comitê. Estiveram presentes pescadores, agricultores, quilombolas, professores, gestores de órgãos governamentais, além de vereadores e secretários municipais das cidades que compõem a Bacia na região. Dois temas concentraram as discussões: o Canal do Sertão Baiano, um dos eixos da transposição do rio São Francisco e o projeto de Pesquisa Iberoamericano sobre Indicadores da Bacia do Salitre, desenvolvido pela Universidade Federal da Bahia em parceria com a Cátedra UNESCO de Sustentabilidade da Universidade Politécnica da Catalunha-Espanha.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre, Almaks Luiz, apresentou as contradições do projeto de transposição do Velho Chico que, nas palavras dele, pretende combater a seca do Nordeste Brasileiro com a escassa água do São Francisco: “O rio está morrendo e querem retirar a pouca água que resta”, disse. Almaks também chamou atenção para as mudanças do projeto de transposição, que descartou o estudo feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE e atualmente é orientado por um projeto apresentado por uma empresa privada. “Nas diversas alterações que o projeto sofreu, foram retirados trechos daqui da bacia do Salitre que beneficiariam pequenas comunidades que precisam de água. O interesse atual é levar água daqui para Salvador”, denunciou.
Manoel Ailton Carvalho, representante da comunidade quilombola de São Tomé, no município de Campo Formoso, também criticou o projeto. “São discussões feitas de cima para baixo, sem a comunidade ter conhecimento. Nós que sentimos na pele não somos chamados a discutir. O Canal do Sertão para nós é um equívoco. As questões sociais e ambientais estão ficando em segundo plano”, criticou o quilombola, que também é membro do Comitê do Salitre e do Comitê do Rio Itapicuru.
Presente à plenária, o promotor público Pablo Almeida destacou a importância da criação da Promotoria Regional Ambiental do Ministério Público da Bahia, que vem interagindo com os comitês de bacia. “A troca de informações tem sido muito rica, pois os comitês de bacia são fontes de conhecimento, com discussões aprofundadas e informações qualificadas”. O promotor informou que já há inquéritos civis gerados por provocação do Comitê da Bacia do Rio Salitre, a exemplo da exploração indevida de Áreas de Preservação Ambiental – APA.
Indicadores
Durante a plenária, os membros do Comitê e demais participantes foram convidados a avaliar os indicadores utilizados pela pesquisa da Cátedra UNESCO de Sustentabilidade no rio Salitre. Alex Pires Carneiro, coordenador do projeto, apresentou os dados que norteiam sua tese de doutoramento. “Fizemos uma ampla pesquisa na literatura sobre indicadores, em cerca de 75 trabalhos publicados no mundo sobre o tema. Identificamos 245 indicadores utilizados por mecanismos internacionais para avaliação hídrica. Desses, utilizamos oito para validar a pesquisa no rio Salitre, levando em conta fundamentos científicos, a escala da bacia e a aplicabilidade”, explicou.
Localizada na Chapada Diamantina, a bacia do rio Salitre integra o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, e é composta por nove municípios: Morro do Chapéu, Várzea Nova, Miguel Calmon, Umburanas, Jacobina, Mirangaba, Campo Formoso e Juazeiro.
ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF
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