09/01/2018
Comporta da Usina Hidrelétrica de Xingó abre espontaneamente causando prejuízos
O problema de elevação do nível do Rio São Francisco no último final de semana, em Piranhas (AL), que causou vários prejuízos no local, foi provocado pela abertura espontânea de uma comporta da Usina Hidrelétrica de Xingó, após a mesma funcionar de forma semiaberta. A explicação é do diretor de Operações da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique de Araújo Franklin Neto, durante reunião promovida nesta segunda-feira (8) pela Agência Nacional de Águas (ANA) e transmitida por videoconferência para os estados da bacia do chamado rio da integração nacional.
De acordo com explicações do diretor da Chesf, a empresa recebeu uma solicitação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) na sexta-feira da semana passada, dia 5, para a elevação do nível do reservatório de Itaparica, em Pernambuco, com a entrada em operação de quatro geradores em Paulo Afonso e um outro em Xingó, para suprir a deficiência na geração de energia através do processo eólico. “Às 21h da sexta-feira, foi elevada a geração, com início de operação da segunda turbina”, explicou ele, sem revelar para qual patamar foi elevada a vazão do rio. “E à 1h da manhã, reduzimos para a defluência atual, de 550 metros cúbicos por segundo [m³/s]”, complementou João Henrique.
Entretanto, segundo ele, a comporta que estava semiaberta, rompeu voluntariamente, sem ação humana. “Tão logo detectamos o problema, providenciamos o fechamento de outra turbina”, informou João Henrique. “Não houve tempo hábil para informar a população sobre essa operação solicitada pelo ONS”, disse, sem detalhar. Ele rechaçou a informação publicada nos veículos de comunicação, de que o problema teria provocado a elevação do nível do rio em aproximadamente oito metros. João Henrique revelou ainda que a equipe técnica da empresa realizou um sobrevoo nesta manhã e constatou que os problemas ficaram restritos aos municípios alagoanos de Piranhas e Pão de Açúcar.
Procissão
Ainda na videoconferência desta segunda-feira, foi motivo de discussão o pedido apresentado pela Prefeitura de Penedo (AL) para a elevação do nível do São Francisco do patamar atual, de 550m³/s para 1.700m³/s por 24 horas, no próximo dia 12. A justificativa é a realização da Procissão Fluvial em homenagem a Bom Jesus dos Navegantes, evento que já faz parte do calendário oficial daquele município. Devido à elevação muito brusca da vazão, o superintendente de Recursos Hídricos da ANA, Joaquim Gondim, buscou colher as opiniões de todos os participantes da reunião.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, participou da reunião no escritório do colegiado, em Maceió (AL). Ele ressaltou que o colegiada busca sempre valorizar as manifestações culturais, artísticas e religiosas que acontecem na bacia do Velho Chico e não poderia se furtar em defender a procissão fluvial. Apesar disso, questionou se não haveria um meio termo entre a vazão atual e a solicitada, que satisfaça a organização do evento. “O Comitê reconhece que a questão religiosa é importante, assim como todas as outras relacionadas aos usos múltiplos, mas essas questões de conflito pelo uso da água devem ser bem discutidas, a fim de chegarmos ao consenso”, considerou Miranda.
Em virtude das discussões, ficou agendada uma nova reunião entre a ANA e os demais entes envolvidos na questão para a próxima quarta-feira, dia 10, a partir das 10h, horário de Brasília, para definir qual o procedimento a ser adotado.
Chuvas
A reunião promovida pela ANA, em Brasília (DF), e transmitida por videoconferência, também contou com a apresentação do balanço hidrológico da bacia do São Francisco para os próximos sete dias. De acordo com o coordenador-geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi, a próxima semana será de chuvas abaixo da média na bacia do São Francisco.
De acordo com o estudo apresentado por Seluchi, a previsão é de uma precipitação média de 27 milímetros. Na região da cabeceira do São Francisco, em Minas Gerais, a previsão é de uma vazão afluente de aproximadamente 500 m³, o que representa uma média de 66% abaixo da média. Nova reunião para analisar as condições hidrológicas da bacia está marcada para a próxima segunda-feira, dia 15, também com transmissão para os estados da bacia. Órgãos públicos, entidades ligadas aos temas do Velho Chico e usuários participam semanalmente da reunião promovida pela Agência Nacional de Águas e transmitida virtualmente.
Por Delane Barros
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