31/01/2019
Comitês de bacias hidrográficas fazem visita técnica ao cenário da tragédia em Brumadinho (MG)
Responsabilização dos culpados, cumprimento das leis ambientais e maior participação da população são pontos levantados durante a visita
Cenas de um crime contra a vida e a indignação com a negligência do poder público. Em pleno cenário devastado por mais uma tragédia ambiental no Brasil, nesta quarta-feira (30) o presidente do Fórum Nacional dos Comitês de Bacias Hidrográficas (FNCBH), Hideraldo Bush, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, do presidente do Comitê da Bacia do Rio das Velhas (CBHVelhas) e do Fórum Mineiro de Bacias Hidrográficas (FMBH), Marcus Vinicius Polignano, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Paraopeba (CBHParaopeba), Winston Caetano de Souza, além de técnicos e ambientalistas do projeto Manuelzão, da Universidade Federal de MInas Gerais (UFMG), estiveram presentes em Brumadinho (MG). O objetivo da visita foi fortalecer o trabalho diário de acompanhamento da qualidade da água e realizar uma avaliação local das consequências do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, da Vale, que aconteceu na última sexta-feira (25) na região.
Legenda em sentido horário:
Marcus Vinicius Polignano, Winston Caetano de Souza, Hideraldo Bush e Anivando Miranda.
Cercado por vários veículos de jornalismo da imprensa nacional e internacional, o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, concedeu uma entrevista coletiva, ao lado dos outros representantes dos comitês de bacia hidrográfica, e lamentou por todas as vidas perdidas e pelo impacto ambiental causado pela lama de rejeitos de minério que arrastou com ela árvores, casas e afetou cursos d’água no território com o rompimento da barragem, fato que, para ele, foi fruto da negligência do poder público em relação à política ambiental. “Os danos ao rio Paraopeba são gravíssimos, atingindo o seu ecossistema. O poder público precisa entender que é fundamental dar importância à política ambiental, melhorar o investimento na preservação do meio ambiente e no monitoramento das águas”, afirmou Anivaldo.
De acordo com os relatórios apresentados diariamente nos sites da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Instituto Mineiro de Gestão Ambiental (IGAM) sobre a situação das águas do rio Paraopeba, a pluma está avançando com lentidão e se encontra cada dia mais dissolvida. Isso significa que, caso não haja adversidades como chuvas fortes, os rejeitos presentes na água deste que é um dos importantes afluentes do rio São Francisco não modificarão expressivamente a sua qualidade no médio e baixo São Francisco. “É claro que um acidente que envolve os corpos hídricos tem reflexo na bacia. Às vezes pode não haver reflexos diretos na qualidade das águas, mas a longo prazo haverá o impacto na biodiversidade”, alerta o presidente do CBHSF.
O presidente do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, Hideraldo Bush, se solidarizou com as famílias das vítimas e demonstrou preocupação em relação à recuperação do rio Paraopeba e de todo o seu ecossistema. “Quando aconteceu em Mariana, avisamos que poderia se repetir, no entanto, nenhuma providência foi tomada. Nós, do FNCBH, vamos acompanhar ativamente e de perto todo o processo”, afirma Bush.
Assista ao vídeo da visita técnica com representantes dos comitês do Rio São Francisco, Velhas e Paraopeba:
Assista à coletiva de imprensa na íntegra:
Para Marcus Vinicius Polignano, presidente do CBH Rio das Velhas e do FMBH, o momento é de que cada um dos atores envolvidos no desastre de Brumadinho assumam suas responsabilidades. “O Estado precisa rever todo o processo do licenciamento. Aquilo que foi feito em Mariana, que foi a aceleração do processo, deu no que deu. O momento é de cada um assumir suas responsabilidades, no lugar de fazer justificativas. Por que como você vai justificar a cada família a perda de um ente querido?”.
Até o fechamento desta matéria já se somavam 99 mortes confirmadas, 57 corpos identificados e 259 pessoas que ainda seguem desaparecidas. Pouco antes dos representantes dos comitês concederem entrevista na base montada para a imprensa em frente a Faculdade ASA de Brumadinho, o porta-voz da Vale, Ricardo Leite, explicou aos jornalistas como será feita a doação de R$ 100 mil aos parentes que tiveram vítimas no acidente, sejam elas funcionários da Vale, prestadores de serviços ou moradores da região. Para realizar a doação, a mineradora vai montar postos de cadastramento a partir desta quinta-feira (31) na Estação Conhecimento de Brumadinho e no Centro Comunitário do Feijão, com atendimento das 14h às 18h na quinta-feira e das 8h às 18h nos demais dias, para receber os dados das famílias e, posteriormente, realizar o depósito em conta em até três dias.
Veja as fotos da visita técnica e impacto do rompimento da barragem:
Recuperação do rio Paraobeba
O rio Paraopeba, um dos principais afluentes do rio São Francisco, tem uma extensão de 510 km e sua bacia cobre 13 643 km² e 35 municípios. Sua nascente está localizada no município de Cristiano Otoni (MG) e sua foz está na represa de Três Marias, no município de Felixlândia (MG). Presente na visita técnica realizada em Brumadinho e perplexo com a situação na qual se encontra o rio, após o derramamento de lama, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, Winston Caetano de Souza, exige que o comitê esteja presente nas ações que envolvam o Paraopeba. “Qualquer plano de recuperação da bacia, o comitê tem que ser o principal protagonista de acompanhamento do Paraopeba”, afirma.
Transparência com os usuários de água
Na próxima segunda-feira (4), CBHSF realizará uma reunião em Felixlândia, município próximo à represa de Três Marias, local onde acontece o encontro do rio Paraopeba com o rio São Francisco, com a presença de prefeitos, usuários da captação de água, população ribeirinha e toda a sociedade. Foram convocados representantes da Agência Nacional de Águas (ANA), da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad) e do Serviço Geológico do Brasil para que prestem esclarecimentos sobre o situação da água e transmitam todas as informações a que têm acesso. “O Comitê acredita que trabalhar com a verdade é o único instrumento legítimo para acabar com a ansiedade das pessoas, sobretudo no rio São Francisco”, pondera o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda. Para ele, o poder público trabalhando isoladamente, não conseguirá atender os grandes desafios da gestão ambiental e que, acima de tudo, é preciso mais transparência com a sociedade.
Em breve as informações sobre a reunião estarão disponíveis no site do CBHSF.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Michelle Parron
Fotos: Michelle Parron/Robson Oliveira/ Léo Boi
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