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21/11/2017

Beleza Pura

No norte de Minas, ainda desconhecidas do grande público, esconde-se uma das mais intrigantes paisagens da bacia do São Francisco: as cavernas do Peruaçu

A nossa guia nos conduz por uma trilha bem sinalizada, segura, cuidada. A primeira impressão é de que se chegou ao começo do mundo. Cavernas gigantes, de proporções que nem mesmo o catalão Antoni Gaudí imaginou ao compor a Sagrada Família, vão se abrindo, iluminadas por fendas esteticamente recortadas. A formação rochosa parece obra de escultores caprichosos. Ora se vê uma pedra desenhando um cacho de cogumelos monstros ora uma estalactite de quase 30 metros de comprimento, em forma de uma perna de bailarina. Correndo entre as rochas, riachos azuis. Se não bastasse, os homens destas cavernas deixaram paredões de grafites pré-históricos.

Estamos no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, unidade de conservação criada em 1999, que agora luta pelo reconhecimento da UNESCO como patrimônio mundial. Localizado na bacia do São Francisco, o parque é superlativo: 56.500 hectares, compreendidos entre os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, no norte de Minas. São mais de 140 cavernas, mais de 80 sítios arqueológicos e paredes de pinturas rupestres, que datam de 11 mil anos atrás.

A jornada é longa – e o calor castiga. Aberto a visitações a pouco mais de três anos, a estrutura do parque oferecida aos caminhantes ainda é precária. Na partida, uma sede em construção, com bons banheiros – e só. Dali em diante, a grandiosidade da natureza o espera. Nosso primeiro destino foi a Gruta do Janelão, o principal atrativo do parque, uma sucessão de salões magníficos, precedidos um paredão de pinturas rupestres. É possível passar horas olhando para os desenhos na pedra, tentando viajar no imaginário ancestral. A trilha da Gruta do Janelão tem 4.800 metros ida e volta, o tempo estimado de caminhada é de 5 horas e meia. Com tempo para apreciar, claro.

Gruta do Janelão, o principal atrativo do parque, uma sucessão de salões magníficos, precedidos um paredão de pinturas rupestres

A próxima parada foi a Lapa dos Desenhos, uma galeria de arte a céu aberto. Os antigos habitantes usaram diferentes pigmentos, em desenhos que cobrem as alturas, como os modernos grafiteiros que se arriscam em arranha-céus. Até lá, a trilha margeia o rio Peruaçu, um ex-rio, que hoje só corre em tempos de chuva. A Lapa dos Desenhos fica a 2.600 metros de distância da sede. O tempo estimado de caminhada é de duas horas e vinte minutos. Mas a trilha sombreada permite acelerar. No trajeto, a mata de galeria se mistura à mata seca.

Ao fim do dia, a sensação é de se ter embrenhado por um mundo a parte, de silêncio, introspecção, passado. A melhor pedida depois da experiência, é comer um tambaqui na brasa à beira do Velho Chico, em Itacarambi, o pouso mais perto.

Outros passeios no parque

. A Lapa Bonita é uma das mais belas e ornamentadas grutas do parque. A atração é o Salão Vermelho, coberto por sedimentos avermelhados. Também chamada de Lapa do Índio, possui painéis de pinturas rupestres que cobrem paredes inteiras e até mesmo o teto. – Distância: 1.500 metros (ida e volta). O tempo estimado de caminhada é de 2 horas e 20 minutos.

. Na Lapa do Boquete encontra-se um dos principais e mais estudados sítios arqueológicos do conjunto, onde foram encontrados alguns sepultamentos. É possível verificar a presença de um silo pré- histórico. Distância: 1.200 metros (ida e volta). Tempo estimado: 1h30 min (ida e volta).

. A Lapa do Rezar reúne a grandiosidade do cânion do rio Peruaçu à riqueza da arte rupestre pré-histórica. Abriga um sítio rupestre com pinturas e gravuras bem conservadas. Destacam-se também as dimensões do seu salão de entrada, que alcança 90 metros de largura e mais de 40 metros de altura. Distância: 2.400 metros (ida e volta). Tempo estimado: 3h30min (ida e volta).

. O paredão da Lapa do Caboclo expõe uma grande concentração de pinturas do estilo Caboclo, exclusivas do Vale do Peruaçu. No Caminho da Lapa do Carlúcio, o visitante encontrará mirantes onde é possível observar as variações da mata seca em diferentes épocas do ano, os cactos e a vegetação rupestre. Distância: 2.650 metros (ida e volta). Tempo estimado: 3h50 min (ida e volta).

Confira as fotos

 

Por Karla Monteiro

 

 

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