04/08/2015
Almanaque: Petrolina
Petrolina é destaque entre os municípios ribeirinhos do Velho Chico. Com uma forte identidade cultural, uma economia vigorosa – baseada sobretudo na fruticultura – a cidade oferece um leque de opções de lazer, curiosidades gastronômicas e uma vocação turística inquestionável, tendo como principal referência o enoturismo – roteiro de visitação às principais vinícolas da região.
Petrolina em números
Área: 4.558,537 km2
Altitude: 376 m
Bacia hidrográfica: Rio Pontal
Clima: semiárido quente
Temperatura média anual: 25,7o
Vegetação: Caatinga hiperxerófila
Distância/ Recife: 722,0 km
Distância /Salvador: 500 km
Vias de acesso: BR-232, BR-110, PE-360, BR-316, BR-428 e BR-122
Aeroporto: Senador Nilo Coelho
Fundação
Petrolina foi fundada em 1870. Tudo começou quando o frei capuchinho italiano Henrique, que realizava pregações missionárias pelos povoados ribeirinhos do rio São Francisco, resolveu construir na região uma capela dedicada a Nossa Senhora Rainha dos Anjos. A construção iniciou-se em 1858 e foi concluída em 1906. Teria sido este o marco inicial de Petrolina? Há controvérsias. O certo é que Nossa Senhora Rainha dos Anjos virou padroeira da cidade e é até hoje festejada por toda a população local.
População
Pelo Censo de 2010 são 293.962 mil moradores. Já as estimativas para 2014 apontam um crescimento de mais de 10%. O fato é que Petrolina concentra o maior contingente populacional do curso do rio São Francisco, comparado apenas à região metropolitana de Belo Horizonte, que ultrapassa os dois milhões de habitantes, embora não esteja na calha do Velho Chico. Somados os moradores da vizinha Juazeiro (estimados em 216 mil em 2014), a população de Petrolina representa o maior aglomerado urbano do semiárido brasileiro.
Batismo
Não, Petrolina não tem nada a ver com petróleo. O nome da cidade é, na verdade, uma homenagem ao imperador D. Pedro II, que ocupava, à época de fundação da cidade, o trono do Brasil. Há uma versão segundo a qual o topônimo seria uma dupla homenagem, com a junção do nome do imperador, em sua forma latina (Petrus), ao da imperatriz Tereza Cristina, resultando em Petrolina. Outra versão sugere que o topônimo teria sido derivado de “pedra linda”, expressão dada a uma pedra que havia na margem do rio São Francisco, ao lado da matriz, e que foi utilizada nas obras de cantaria da catedral local, um dos maiores monumentos históricos da cidade.
Apelidos
Califórnia Sertaneja, Capital do São Francisco, Capital da Uva, Capital das Frutas. Esses são alguns dos apelidos que a cidade ganhou através dos tempos, expressando a sua importância econômica para a região e para o Estado de Pernambuco.
Clima
A fama que corre é que Petrolina é a sétima cidade mais quente do país. Mas a temperatura média anual gira em torno de 26,3 o C, com verões quentes e úmidos e invernos mornos e secos. O clima petrolinense é classificado como semiárido quente, caracterizado pela escassez e irregularidade de chuvas, assim como pela forte evaporação, por conta das altas temperaturas. Novembro é o mês com maior temperatura média máxima (34oC), enquanto julho é o mais frio (24,1oC).
Rio São Francisco
Efetivamente ribeirinha, Petrolina tem 96 quilômetros de sua extensão banhados pelo rio São Francisco. Também lá o rio sofre com a poluição e assoreamento, apesar de emoldurar a bela orla da cidade. Somente o município despeja cerca de 300 litros de esgoto bruto por segundo nas águas são-franciscanas. A boa notícia é que a prefeitura local pretende inaugurar uma nova estação de tratamento ainda este ano, prometendo a redução dos efluentes em pelo menos 90%.
Ponte
A conexão com a cidade baiana de Juazeiro, que fica do outro lado do rio, é feita pela ponte Presidente Eurico Gaspar Dutra, inaugurada em 1954, com cerca de 800 metros de extensão. Por ela, passam pedestres e carros. Ao lado dela, barcas realizam a travessia de pessoas e mercadorias.
Ilhas
Entre Petrolina e Juazeiro está a Ilha do Fogo, de propriedade do Exército Brasileiro, alvo de reivindicação da população local, que exige livre acesso para lazer e pesca. Outras ilhas fluviais servem de lazer e diversão, além de prática de esporte, com rico potencial turístico. É o caso de Massangano, do Balneário de Pedrinhas e da Ilha do Rodeadouro, que pertence à vizinha Juazeiro, mas é muito frequentada por petrolinenses e turistas em visita à cidade.
Economia
Nos primórdios, Petrolina era conhecida como “Encruzilhada do Progresso”. Motivo: a cidade virou passagem obrigatória para o Norte do Brasil e via de escoamento para o Centro Sul do país. Sua dinâmica econômica atual comprova a pertinência do título, especialmente após os investimentos na agricultura irrigada, a partir da década de 1960, que possibilitou o desenvolvimento dos potenciais agrícolas da região do Vale São Francisco, fazendo de Petrolina um dos destaques da economia pernambucana.
Atualmente cultiva-se 1 milhão de toneladas de frutas com safras avaliadas em U$ 1,3 bilhão de dólares, sendo responsáveis por 30% de toda a economia da cidade. A fruticultura transformou não só a paisagem local, mas a vida de 800 mil pessoas que trabalham no setor. Petrolina é a segunda maior produtora de uvas do país, além de um dos polos nacionais de produção de manga, coco, acerola e goiaba. Boa parte dessa produção destina-se ao exterior.
Enoturismo
Além de exportada in natura, a uva garante a produção recorde de 7 milhões de litros de vinho por ano. É a base também para o enoturismo, responsável pelo crescente fluxo turístico no Vale do São Francisco, tendo como alvo a visitação às diversas vinícolas da região a partir de Petrolina e Juazeiro. Em Pernambuco, as vinícolas estão distribuídas nas cidades vizinhas de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, mas o roteiro pode incluir também a cidade baiana de Casa Nova. A visitação pode ser feita com automóveis de passeio, ônibus e vans de turismo.
Existe também a opção do “Vapor do Vinho”, que recria a velha tradição hidroviária do rio São Francisco. A bordo da barca Rio dos Currais, o visitante conhece o Lago de Sobradinho, maior reservatório brasileiro; a Fazenda Fortaleza, onde é possível provar o doce sabor das mangas tommy e, finalmente, a vinícola Ouro Verde, para degustar e aprender detalhes sobre a produção dos vinhos, espumantes e brandy da marca TerraNova/Miolo.
Aeroporto
Inaugurado em 1981, o Aeroporto Internacional Senador Nilo Coelho possui a segunda maior pista de pouso e decolagem do Nordeste – 3.250 metros de extensão. Em consequência, recebe grandes aviões cargueiros e de passageiros, o que faz de Petrolina o segundo portão de entrada por via aérea de Pernambuco. O terminal de cargas, com 2mil m2, está preparado para atender à demanda de exportação de frutas da região para diversos países do mundo. O aeroporto também é responsável por reforçar o turismo de lazer e de negócios na cidade, atraindo milhares de visitantes.
Vapor
Sede do Centro de Informações Turísticas de Petrolina, o Vapor Saldanha Marinho é uma atração à parte na orla da cidade. Embarcação centenária, foi a primeira movida a vapor a navegar pelo Velho Chico, no século XIX. Nos idos de 1871, fazia a importante rota Pirapora–Juazeiro, transportando mercadorias e passageiros.
Geraldo Azevedo
Cantor, compositor e violonista, divulgador da música nordestina e defensor do Velho Chico. Geraldo Azevedo é mais do que o artista mais conhecido de Petrolina, onde nasceu. É uma referência cultural da maior importância. Aos 70 anos, está em plena atividade, cantando a cidade e desconstruindo padrões: na canção Petrolina e Juazeiro, que gravou com o baiano Moraes Moreira, desfaz com poesia o que poderia existir de desavença entre as duas cidades: De todo lado é bonito / São dois estados de espírito / No meio fico e não nego / Navego no Velho Chico.
Orquestra Sanfônica
Uma sanfona já vale o espetáculo. Que dirá várias. Criada em 2012, a Orquestra Sanfônica de Petrolina vem mantendo viva a musicalidade petrolinense, com apresentações distribuídas pelo calendário festivo da cidade. Reúne veteranos sanfoneiros da região, unidos pela música e pelo gosto de tocar este instrumento vital para a cultura nordestina. Uma curiosidade: a orquestra nasceu em meio à celebração do centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, uma das maiores referências da música popular brasileira, orgulho de Pernambuco e de todo o Nordeste.
Gastronomia
Petrolina une características de sertão e de orla fluvial. Isso é mais do que evidenciado na gastronomia da cidade, que se divide entre a carne de caprinos (bodes e carneiros) e os pescados. Para os interessados em saborear os peixes do Velho Chico, a opção são as ilhas ao redor da cidade, como a de Pedrinhas, a 33 km, ou do Rodeadouro, a 15 km, onde fazem sucesso espécies como o surubim e a tilápia, ambas servidos assados na brasa, acompanhados de farofa e macaxeira. Já para os carnívoros, todos os caminhos levam ao “Bodódromo”, na Avenida São Francisco, bairro de Areia Branca. O espaço ao ar livre conta com cerca de dez restaurantes, mas o cardápio da maioria não inclui a carne do animal mais popular da caatinga. O bode foi substituído pelo carneiro, oferecido em receitas triviais e excêntricas, em forma de linguiças, kakfas, buchadas e pizzas.
Artesanato
As carrancas que protegem as embarcações que navegam pela bacia do rio São Francisco também servem de inspiração artística. A Oficina do Artesão Mestre Quincas oferece carrancas dos mais diversos materiais, formatos e tamanhos. A maioria é feita de madeira, algumas ecologicamente corretas. O espaço é, na verdade, um grande centro produtor de artesanatos diversos, a partir de materiais como madeira, barro, tecidos. Há brinquedos e objetos de decoração, roupas e patchwork. Administrado pela Associação de Artesões de Petrolina, que conta com 80 integrantes, o local homenageia Joaquim Correia Lima, apelidado de Mestre Quincas, nascido em 1895 na vizinha Juazeiro e considerado o primeiro artesão de Petrolina, onde viveu e morreu afogado nas águas do Velho Chico.
Ana das Carrancas
Ana Leopoldina Santos (1923–2008) inovou e criou um estilo próprio ao esculpir suas carrancas no barro que retirava do rio São Francisco. Ana das Carrancas, como ficou nacionalmente conhecida, nasceu em Santa Filomena (PE) e aprendeu com a mãe a trabalhar com o barro. Quando criou as carrancas, sofreu críticas e zombarias, mas persistiu. Ganhou reconhecimento e mercado para a comercialização das suas peças, que hoje, após sua morte, são produzidas pelas filhas Ângela e Maria da Cruz. A marca registrada é a carranca de olhos vazados (criada por Ana em homenagem ao marido cego). O espaço cultural possui um memorial que conta a trajetória da artesã, que já recebeu títulos como Patrimônio Vivo de Pernambuco – 2006, Cidadã Petrolinense – 2000 e a Ordem do Mérito Cultural, honraria oferecida pelo Governo Brasileiro em 2005 pelas mãos do presidente Lula e do então ministro da Cultura, Gilberto Gil.
*Esta matéria foi veiculada na Revista do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco CBHSF | Nº 06 | MAI 2015. Para ler a revista completa, acesse.
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