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16/01/2018

Água poluída poderá provocar protesto indígena em Penedo

A comunidade indígena Kariri-xocó, de Porto Real do Colégio (AL), anunciou na segunda (15 de janeiro), em Maceió (AL), que irá mobilizar pelo menos duzentos indígenas para cobrar da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Parnaíba e do São Francisco (Codevasf), em Penedo, o cumprimento de acordo firmado entre o Natal e o final do ano passado, segundo o qual aquela companhia faria a cessão de uma máquina retroescavadeira para melhorar emergencialmente as condições de potabilidade da água que está sendo precariamente captada em desvio marginal do Rio São Francisco para atendimento de mais de 4.000 pessoas cuja saúde já está sendo comprometida há semanas pela baixíssima qualidade da água captada.

Os representantes da comunidade indígena estiveram no escritório do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), em Maceió, acompanhando, a convite do Comitê, a videoconferência semanal que a Agência Nacional de Águas (ANA) promove para gerenciar a crise hídrica na bacia Eles chegaram a postular que possíveis injunções de ordem político-partidária estariam dificultando o cumprimento da promessa feita pela Codevasf em Penedo.

Depois de reiterar que o CBHSF continua pronto para fornecer o combustível necessário para funcionamento da retroescavadeira, conforme acertado no final do ano passado, o presidente do Comitê, Anivaldo Miranda, mostrou-se solidário aos indígenas e mais uma vez destacou o caráter emergencial da situação que, segundo ele, “deixou de ser um problema apenas de escassez hídrica para se transformar também em caso de saúde pública”.

Com o desdobramento da discussão, o representante da Codevasf em Brasília, Carlos Pinheira, comprometeu-se a investigar o assunto e solucionar o impasse. Já o cacique Carlos Suíra sugeriu que, se novas dificuldades forem apresentadas pela representação da companhia em Penedo, Alagoas, que se procure a representação da Codevasf de Propriá, em Sergipe, que teria se colocado à disposição para socorrer os Kariri-Xocó que, na expressão do seu cacique “está bebendo lama há muitos dias”.

Ainda sobre o assunto, os índios informaram que dois técnicos da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), órgão ligado ao Ministério da Saúde, estiveram em Porto Real do Colégio, onde fica a aldeia, vindos de Brasília, para finalizar os trabalhos de campo necessários à elaboração do projeto executivo referente às obras de reestruturação e redimensionamento dos sistemas de captação, tratamento e distribuição de água potável para a comunidade local. Conforme o acertado, o CBHSF, em parceria com a Sesai, financiou as passagens e diárias dos especialistas com vistas à aceleração das medidas que permitirão a execução do projeto.

Chuvas

Ainda na reunião, houve apresentação das condições hidrológicas da bacia do São Francisco para os próximos dias. A expectativa é de que o nível do reservatório de Sobradinho (BA) chegue, no dia 1º de fevereiro, a 15% do seu volume útil, devido às chuvas que têm sido registradas desde o final de 2017 na bacia do chamado rio da integração nacional. A informação foi passada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Além disso, a expectativa é de que Itaparica, em Pernambuco, mantenha-se nos 10% de seu volume útil e Três Marias, na região da cabeceira do rio, em Minas Gerais, atinja 28% de sua capacidade. Os índices são animadores, mas o setor elétrico mantém a observação de que o período crítico na bacia do Velho Chico não foi totalmente superado.

Ainda na reunião, a equipe da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) fez uma apresentação para detalhar os problemas que aconteceram no último dia 5 de janeiro, quando foi constatada a elevação do nível do rio na região de Piranhas e Pão de Açúcar, em Alagoas. A equipe da empresa reforçou que tudo foi ocasionado pela abertura inesperada de uma comporta da hidrelétrica de Xingó (AL) em decorrência de operação de emergência determinada pelo Operador Nacional do Sistema Hidrelétrico (ONS), com vistas a suprir emergencialmente instabilidade passageira no fornecimento de energia eólica e térmica capaz de comprometer o sistema como um todo. Pela primeira vez a empresa revelou dados mais precisos sobre o nível do rio. Através de slides, explicou que o problema elevou a defluência do patamar atual, de 550 metros cúbicos por segundo (m³/s) para 700m³/s, entre 21h30 da sexta-feira, dia 5, até 1h do sábado, dia 6.

Comerciantes que mantém atividades na beira do rio naquela região do Baixo São Francisco revelaram ter sofrido prejuízos devido a elevação do rio. Segundo moradores, o Velho Chico subiu até 8 metros. Segundo a Chesf, essa elevação foi de 4 centímetros na região da montante, ou seja, após a hidrelétrica.

Solicitado a se pronunciar sobre o caso, o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, sugeriu aos participantes do fórum que gerencia a crise hídrica no Rio São Francisco que transformem o ocorrido em “estudo de caso” com vistas a acumular mais experiência sobre manobras operativas do sistema hidrelétrico e, sobretudo, fazer um novo diagnóstico dos perímetros de inundação para, junto às prefeituras ribeirinhas, evitar construções permanentes e outros tipos de ocupação do solo que possam ocasionar em algum momento tragédias em cenários de futuras inundações.

 

Por Delane Barros

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