19/03/2019
Dois Dedos de Prosa com Altino Rodrigues Neto
O vice-presidente do CBH do Entorno da Represa de Três Marias, Altino Rodrigues Neto, ambientalista e empreendedor do ramo do turismo na Ilha do Mangabal, está mobilizando a sociedade, autoridades e usuários de água para que sejam tomadas providências em relação à tragédia causada pela empresa Vale. Nessa entrevista, Altino, que é também membro do CBHSF e secretário da Câmara Técnica de Articulação Institucional (CTAI), conta o que está sendo feito.
– Com rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, que atingiu o Rio Paraopeba, afluente do São Francisco, há um forte risco de que a pluma de rejeitos chegue até o lago de Três Marias, contaminando as águas do Rio São Francisco. Se isto acontecer, quais serão as consequências?
Ainda é prematuro se afirmar qualquer coisa pois temos um grande número de variáveis que vão desde a quantidade de chuvas à hidrodinâmica e à decantação e sedimentação dos rejeitos. Nós sabemos que é apenas uma questão de tempo até que os rejeitos atinjam o reservatório de Três Marias, pois o Rio Paraopeba segue o seu curso. A represa de Três Marias já foi impactada. As consequências para a piscicultura e o turismo já foram comprovadas com cancelamentos na rede hoteleira e questionamentos sobre a qualidade do pescado produzido nessas águas. Isto, sem citar os pescadores artesanais, que, quando ao fim do período do defeso, retomarem suas atividades, também terão a qualidade de seus peixes colocada à prova. Para o ambiente como um todo, só poderemos mensurar as consequências, a curto e longo prazo, após sabermos a quantidade e a composição do rejeitos que chegarão à represa de Três Marias; mas, sem dúvida, causará prejuízos à biota de toda a bacia, de Felixlândia ao Atlântico.
– Quais as providências que o CBH do Entorno da Represa de Três Marias está tomando para minimizar os danos, caso a pluma chegue ao lago?
No dia 04/02, o CBH do Entorno da Represa de Três Marias, por sugestão do presidente Anivaldo e com o apoio do CBHSF, promoveu, na cidade de Felixlândia, uma reunião pública para o nivelamento das informações e posicionamentos sobre a questão. A reunião contou com participação maciça da sociedade, representada por pescadores, piscicultores, ribeirinhos, grandes e pequenos usuários como a COPASA, CEMIG e Furnas, ONGs, governo do estado de Minas Gerais, MPF, prefeituras do entorno do lago e representantes da Vale. Ao término deste encontro, elaborou-se um documento intitulado “Carta de Felixlândia”, que exprime claramente o sentimento de todos, demandando ações imediatas por parte da Vale, além de pedir o apoio dos poderes constituídos para que promovam as mudanças necessárias a fim de evitar tragédias como esta.
– Houve algum avanço? As autoridades responsáveis e a mineradora Vale deram algum retorno?
Até o momento não obtivemos nenhuma resposta por parte da Vale e nem das autoridades. Por isso mesmo, em 20/02, ocorreu na Câmara Municipal de Três Marias, audiência pública sobre o tema, e no dia 22/02 na Câmara Municipal de Felixlândia. Um GT (grupo de trabalho) foi criado, após estas audiências, para levar diretamente ao juiz responsável pelo caso, a reivindicação dos municípios da Represa de Três Marias como área atingida pelo desastre e, ações imediatas para reparo dos danos. A audiência do judiciário deverá ocorrer no próximo dia 07 de março.
– Como a população de Três Marias está reagindo a essa possibilidade? As informações passadas pelos órgãos responsáveis estão sendo satisfatórias?
A população dos municípios do entorno ainda está muito apreensiva, pois os dados são inconclusivos. A pedido do comitê, os relatórios de análise emitidos pelo estado, agora são apresentados em uma linguagem de mais fácil compreensão mas, ainda assim, o comitê os apresenta de maneira popular em audiências públicas.
– Sobre o monitoramento da qualidade da água no Lago de Três Marias, os laudos já atestaram algum tipo de contaminação?
Até o presente momento, as análises divulgadas não apresentaram nenhum tipo de contaminação. Todavia, a Câmara Municipal de Felixlândia, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto, já iniciou testes independentes.
– Daqui pra frente, o que se pode esperar? Quais são, o melhor e o pior cenário, no futuro?
Como eu disse, ainda é cedo para se afirmar qualquer coisa, mas, com uma perspectiva otimista, esperamos que todas as ações possíveis sejam tomadas para evitar que os rejeitos cheguem ao Rio São Francisco. Já, no caso de um cenário pessimista, existe a possibilidade da contaminação comprometer a biota, a economia e o modo de vida dos ribeirinhos. O comitê não se furtará do seu papel como legítimo representante dos interesses da bacia, sendo seus ouvidos, sua voz, e se preciso for, braços, para defender o Velho Chico.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Mariana Martins
Foto: Michelle Parron
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