21/12/2018
A Expedição Fotográfica ‘Olhares do Velho Chico’ completa seu primeiro roteiro passando por 11 municípios da calha do São Francisco
Por ser tão extenso e possuir tanta diversidade cultural e geomorfológica, aqueles que convivem ou visitam o Velho Chico sempre são surpreendidos com novas formas de olhar o rio e o mundo que se erigiu ao seu redor.
Conhecendo essa magia do São Francisco, o secretário da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Submédio São Francisco, instância do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), Almacks Luiz, idealizou a expedição fotográfica ‘Olhares do Velho Chico’, que pretende percorrer as 55 cidades localizadas na calha do rio.
A nossa redação conversou com Almacks que nos contou sobre o percurso já percorrido e os encantos e desencantos dessa aventura.
1. Do que se trata e o que motivou a expedição?
A expedição visa ter um conhecimento maior do rio, do seu povo e de sua calha. Somos 505 municípios em 6 estados e mais o Distrito Federal, tendo a calha composta por 55 cidades. Então, essa expedição trata de ter uma visão geral da situação do rio realizando o registro dessas visitas e promovendo educação ambiental. O que nos motivou foi, justamente, esse desejo de conhecer melhor o rio. São poucas as pessoas, dentro e fora do CBHSF, que conhecem as 55 cidades que formam a calha do Velho Chico.
2. Quem são os companheiros de viagem que compõem a caravana?
A expedição é uma antiga ideia minha. Quando decidi por em prática convidei os parceiros Jackson [Antônio Jackson, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e fundador do Museu Ambiental Casa do Velho Chico, localizado em Traipu – AL], Ednaldo [Ednaldo Campos, coordenador da CCR Médio São Francisco e presidente do CBH Rio Verde e Jacaré, Lapão – BA] e o Tonhão Vieira [Antônio Eustáquio Vieira, presidente do CBH Rio Paracatu e da ONG Movimento Verde, Paracatu – MG]. Mas nesse primeiro roteiro, saímos apenas eu e o Jackson. Em Bom Jesus da Lapa, nós tivemos a colaboração, até a cidade de Morpará e Paratinga, do amigo Cláudio Pereira, quilombola da comunidade de Lagoa das Piranhas, que nos acompanhou nesse trajeto.
3. Qual foi o primeiro roteiro?
Nós fizemos o roteiro inicial de 11 cidades começando em Matias Cardoso (MG) no dia 08 de dezembro. De lá passamos por Manga, ainda em Minas Gerais, saímos pra Malhada que já é na Bahia, Carinhanha, Bom Jesus da Lapa, Sitio do Mato, Paratinga, Ibotirama, Morpará, Barra e encerramos em Xique-Xique. Nós viajamos de carro por 3.056 km entre esses 11 municípios que representam 538 km da calha do rio.
4. Nesses 3.056 km percorridos, vocês devem ter se deparado com muitas realidades distintas.
Vimos um diferencial muito grande em comparação das grandes cidades que estão à margem do São Francisco. Como Juazeiro e Petrolina, que é hoje o maior centro populacional às margens do rio, e as cidades tão pequenas e isoladas como Morpará no interior da Bahia, onde pra você chegar, roda quase 100 km de estrada de chão e faz uma travessia em uma pequena balsa.
5. E apesar dessa disparidade, o rio é historicamente importante pra todas essas regiões.
O rio é vivo! O rio é cultura, é gente, é uma variedade de coisas. Nos lugares por onde passamos nós vimos os portos cheios. A maior parte dessas cidades por onde passamos tem uma ligação muito grande com o período colonial. Época, em que os nossos irmãos eram tratados como escravos. A maioria dessas cidades tem a formação “com o pé na África” e também com influencia indígena muito grande.
6. Qual foi a imagem mais negativa dessa primeira etapa?
A situação de alguns portos. Sem sombra de dúvidas o mais impactado é o da cidade de Xique-Xique. O porto de Xique-Xique está praticamente jogado as traças e as baratas. A última grande enchente do São Francisco foi em 1979, lá se fez um cais novo e mais alto, com pontos comercias que estão abandonados, bem poucos funcionam e os casebres, os barracos, as pocilgas, chiqueiros, currais, tudo isso, ocupam a área do rio, um área que não podia estar sendo usada pra esse fim, sem contar ainda o problema da marginalização desse espaço.
7. E qual a lembrança mais tocante?
Um dos momentos mais emocionantes da expedição foi quando chegamos entre a cidade da Barra e Xique-Xique, duas cidades da calha do rio que o companheiro de viagem Antônio Jackson, carinhosamente chamado de “Velho do Rio”, não conhecia. A alegria que Jackson expressava por conhecer todas as cidades que estão na calha do rio nos emocionou bastante.
8. E agora, qual o próximo passo?
No dia 13 de janeiro de 2019 vamos dar início ao segundo roteiro que pretende sair da cidade de Penedo (AL), onde nesta data, se realiza a maior procissão fluvial do rio São Francisco e, de lá, percorrer 16 cidades do Baixo São Francisco, sendo 8 no estado de Alagoas e 8 no estado de Sergipe.
9. Aguardamos ansiosos pelo resultado das informações e imagens captadas. Boa viagem pra caravana.
Sim, vamos mantendo contato. Forte abraço a todos.
Veja as fotos da expedição:
A expedição fotográfica ‘Olhares do Velho Chico’ tem o apoio institucional do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF ), da empresa de comunicação integrada TantoExpresso e da Agência Peixe Vivo. Conta com apoio financeiro de: Loteamento Terras de Itaitu Hildebrando Cedraz, REABILITA, LOCALMAQ, CONSOMINAS, Studio Almacks, HG Honey Gama, Advocacia Farias, ONG ZABUMBÃO, Museu Ambiental Casa do Velho Chico, PROJETA Engenharia e MOVER – Movimento Verde de Paracatu.
*Texto: Higor Soares
*Fotos: Almacks Luiz Silva
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