08/06/2018
Estudantes com necessidades especiais são apresentados à luta para defender o Velho Chico
Em seu último dia em Sergipe, a campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”, instalada na Universidade Federal de Sergipe (UFS) recebeu classes da Escola Estadual 11 de Agosto, uma instituição que tem seu quadro formado por 80% de alunos com necessidades especiais. Explorando recursos visuais, a exposição conseguiu garantir o encantamento e a compreensão dos estudantes.
“O aprendizado fica muito melhor com esses recursos visuais. Sem contar que a proposta de falar sobre o Rio São Francisco, algo que é próximo deles e eles nem sabiam, ajudou bastante a manter o interesse deles”, enalteceu Ana Maria, professora de História. Na turma da educadora, há alunos surdos, com síndrome de down e dificuldade de aprendizagem.
Acompanhando os estudantes com surdez estava o intérprete Ailton Batista. Para ele, os recursos lúdicos são fundamentais. “A recepção deles foi maravilhosa. Como eles têm deficiência auditiva, as opções são muito poucas. Então, utilizar o visual é muito importante porque eles captam mais as ideias e vão lembrar disso futuramente”, comemorou o tradutor que trabalha na escola há 12 anos.
Umas das alunas que Ailton acompanha é Vitória Ellen, de 16 anos. A adolescente está no 8º ano do ensino fundamental. Durante a exposição, Vitória conheceu as lendas e histórias do São Francisco e se interessou pela carranca. “Ela protege dos maus espíritos”, expressou. De acordo com ela, a partir de agora, irá “aconselhar as pessoas a também protegerem o rio”.
Já Erick Luís Araújo, 21, que cursa o 9º ano, disse que gostou do “nego d’água”, um ser lendário que habita rios como o São Francisco e costuma aparecer para pescadores. Erick é autista e disse que até hoje não tinha conhecimento sobre a história ou a situação da bacia. Outro colega, Adriel Santos, 13, conheceu o Velho Chico navegando em suas águas no município sergipano de Ilha das Flores. “Mas hoje descobri muitas coisas novas, como essas lendas”, acrescentou.
O lúdico também foi explorado nas apresentações teatrais dos alunos do projeto de extensão “Expressão Corporal” do Instituto Federal de Sergipe. Com danças, músicas e performances, o grupo apelou para que os presentes virassem carranca e salvassem o Velho Chico. “A arte toca. O visual sensibiliza. Nos utilizamos disso para que o pessoal tome ciência sobre a poluição e o desmatamento que agravam a situação do rio e possam entrar na luta”, explicou o instrutor Walisson Bispo.
Para encerrar a passagem da campanha de 2018 por Sergipe, Paulinho Araújo e convidados tocaram músicas em alusão ao Rio São Francisco, lembrando Cícero Lino, um ribeirinho de Piaçabuçu (AL), conhecido por tocar pífano. “A gente escolheu músicas de protesto, e ao mesmo tempo de celebração e reflexão sobre as águas do São Francisco”, expressou Paulinho. O músico também tocou “Canto do Além Mar”, uma música que ele gravou com índios kariri-xocós da cidade alagoana de Porto Real do Colégio. Ao fim, parte do grupo se juntou à plateia e encenou o toré, um ritual indígena que une dança, canto e religião.
Confira as fotos das atividades da campanha:
A campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”, promovida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) começou em Sergipe no último sábado, 2, com ações na Universidade Tiradentes e na Orla de Atalaia, ambos em Aracaju. No dia 4 de junho seguiu para São Cristóvão e tomou conta do Centro de Vivência da UFS até esta quarta, 6 de junho. Cerca de 150 pessoas foram alcançadas diariamente pela mostra sobre a história do Rio São Francisco, os impactos da ação humana e como contribuir para a defesa de suas águas.
*Texto: Jéssica França
*Fotos: Alan Rodrigo
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