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04/06/2018

Em Traipu, gerações de ribeirinhos lutam pela preservação do Velho Chico

Neste domingo, 03 de junho, Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, o ribeirinho Alan Silva Santos, 13, entoou um repente às margens do homenageado, no Porto da Areia, na cidade de Traipu (AL): “Assim que eu vejo esse rio, com suas águas serenas, descendo doce e mansinho, me faz lembrar a infância, meu tempo de criança (…)”.

Filho de agricultores, Alan aprendeu a reconhecer a importância do Velho Chico para a vida dele e da família. O adolescente é um dos alunos da Escola Municipal de Educação Básica Francisco Mangabeira, uma das três instituições traipuenses que se somaram à luta pela plenitude do rio. Nos arredores do Porto da Areia, outros estudantes, professores, gestores e moradores se mobilizavam. As crianças fizeram pinturas, criaram paródias, declaram poesias e deram gritos de guerra – tudo para mostrar que o esforço conjunto pode salvar o rio de 2700 quilômetros de extensão.

Cássia Melo, diretora do Francisco Mangabeira, conta que o trabalho de conscientização vem sendo feito na escola através de palestras, conferências e, principalmente, na rotina das aulas. “Os alunos entendem, se empolgam e interagem. Para hoje, eles mesmos produziram maquetes e cartazes”, disse a educadora. “Cuidando das águas do São Francisco, cuidamos da história”, concluiu Cássia.

A arte também esteve presente na homenagem da centenária banda Lira Traipuense. “O Rio São Francisco vai bater no ‘mei’ do mar”, melodiavam os instrumentos orquestrados por Nilson Souza, 72. Enquanto regia, o filho, e também maestro, Nilton Souza, observava a tradição e a renovação da banda que, atualmente, agrega 42 músicos, entre adolescentes e idosos. “O último maestro passou 40 anos na banda. Entretanto, sempre estamos renovando. Hoje um garoto de 14 anos está fazendo a estreia dele no saxofone”, comparou. Nilton cresceu vendo o progresso da banda, que se desenvolveu ao redor do Velho Chico. “O rio fortalece a banda e a banda fortalece a cultura do município, que é sempre voltada para rio”, narra o círculo.

Segundo as palavras de Antônio Jackson Borges, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica (CBHSF) do São Francisco e secretário municipal do meio ambiente da cidade, o rio representa vida para Traipu. Por isso, a luta para que ele seja revitalizado deve ser encarada com responsabilidade. “É necessário que a população se envolva com compromisso, amor e paixão para que o São Francisco volte a ser o que era antes”, clama. “É fundamental a educação ambiental. A luta é grande, exige mudança de paradigmas, cultura, comportamento, menos consumismo e mais compromisso com a natureza”, elencou.

Casa do Velho Chico

Como forma de mostrar os impactos causados ao rio, o membro do CBHSF fundou o Museu Ambiental Casa do Velho Chico em 2001. No local, o jovem voluntário Alisson Oliveira, que finaliza o ensino médio e já sonha em se graduar em História, recebe os visitantes para contar sobre o acervo. “Logo que foi fundado, o museu se encontrava na beira do rio, em um pequeno espaço. Depois foi para Pão de Açúcar, onde passou seis anos e em 2017 retornou para Traipu”, narra. Além disso, a parte itinerante da Casa já percorreu Alagoas, Pernambuco e Sergipe e deve chegar aos estados da Bahia e Minas Gerais.

Pelos corredores do museu, o choque do impacto causado pela ação humana é imediato. Árvores sangram com o desmatamento, o rio chora com a poluição provocada lixo e, principalmente pelos esgotos que desembocam em suas águas. “Nossos painéis mostram a poluição e a ganância do ser humano em geral”, relata o voluntário.

Esperança

Para Antônio Jackson, que há 52 anos luta pelo rio, a esperança para a manutenção do Velho Chico está depositada nas mãos das futuras gerações. “Esperamos que essa nova turminha, que é o nosso foco de conscientização, seja quem vai mudar o futuro do São Francisco”, disse o ativista.

Durante o evento, que tem como lema ‘Viro carranca para defender o Velho Chico’, Jackson foi questionado sobre a origem das esculturas de madeira tão simbólicas para a região. “Eram usadas nos barcos por remeiros do Rio São Francisco que acreditavam que elas espantavam os maus espíritos”, explicou. Com forma humana ou de animal, o objeto faz parte do imaginário popular e abarca a crença da proteção e da atração de muitos peixes para a embarcação.

Mais tarde, em um abraço simbólico ao rio, ribeirinhos de todas as idades se juntaram, deram as mãos, e se propuseram a virar carrancas para livrar o Velho Chico de todos os males que o podem alcançar e, assim, garantir a própria sobrevivência.

Confira as fotos:

*Texto: Jéssica França
*Fotos: Edson Oliveira

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