11/01/2018
Dois Dedos de Prosa com Luiz Dourado
Luiz Alberto Rodrigues Dourado, turismólogo e antropólogo por formação, é pós-graduado em Educação Socioambiental e Desenvolvimento Sustentável, especialista em governança de recursos hídricos. Atualmente, vem contribuindo com a Associação dos Condutores de Visitantes do Morro do Chapéu, cidade onde reside. Nascido em Juazeiro, no norte da Bahia, define sua relação com o Rio São Francisco como sendo de “corpo, alma e espírito”, já que viveu desde a infância até a fase adulta aproveitando todas as formas de lazer existentes no rio.
Como e quando começou sua atuação no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco? Por que decidiu contribuir com o CBHSF?
Começou em 2009. A decisão foi tomada em face da minha aposentadoria e pelo fato de querer devolver ao rio um pouco do muito que ele me deu na vida em forma de lazer e bem-estar. Sinto como se as águas do rio corressem dentro do meu corpo dando manutenção a todos os processos vitais e bioquímicos que me mantém vivo.
Qual a sua avaliação sobre a situação de crise hídrica? Do seu ponto de vista, quais fatores externos poderiam ter contribuído para o cenário atual?
A crise hídrica atual tem três componentes intrinsecamente relacionados:
1- A ocupação e predação da Bacia Hidrográfica desde 1501, com a expedição de Américo Vespúcio, decorrendo 517 anos.
2- Os impactos naturais advindos das secas, cheias e estiagens, havidos e por haver, constituindo-se em fator imponderável da natureza.
3- O que denomino de “seca de gestão governamental”, que é o pior deles, porque acentua os impactos dos dois fatores supracitados. Inexiste, praticamente, a impostergável revitalização.
Tudo isso contribui para o estado de degradação da Bacia atualmente.
Como o CBHSF em suas diversas atuações pode e vem contribuindo para a mudança desse cenário?
Exercendo o seu papel político-institucional lutando para conectar as políticas públicas relacionadas com os três entes federativos que detêm o quantum necessário para a revitalização. A DIREX tem buscado, em seu protagonismo notável nas duas últimas gestões, sensibilizar os órgãos relacionados para que aproveitem bem a atualização do Plano de Bacia para aportarem recursos necessários para a pretensa revitalização.
Vale ressaltar que a revitalização requer vultosos recursos detidos pelos municípios, estados e União e se vale dos recursos da cobrança para fazer “obras demonstrativas” que devem ser aprimoradas ao longo do tempo-espaço de gestão.
Chegamos a um patamar de preocupação com o atual cenário do Rio São Francisco no qual percebemos que, a cada ano, o nível dos reservatórios não consegue se recuperar o suficiente. Na sua percepção, esse cenário pode se tornar ainda pior? É possível evitá-lo? Como?
O cenário de degradação atual só pode ser recomposto tempestivamente pelas ações da natureza em seus processos de “reequilíbrio” naturais e espontâneos. Não sabemos se nesse “tempo natural” o homem da bacia suportará e, quiçá, sobreviverá.
Como você define o Rio São Francisco?
Um rio da vida do Semiárido que não corre mais primaveril e nem canta mais o amor de chegar ao mar onde quase não deságua. E aqui deixo meu verso neste universo-rio que corre dentro de mim.
“Meu rio que vejo da ponte onde sempre estou debruçado (entre Juazeiro e Petrolina) embora existam outras pontes mais do meu imaginário, distendida sobre suas águas.
Ponte que une e que separa, separa e une num trânsito eterno de ir e vir entre Juazeiro e Petrolina.
Dos olhos meus chorados junto com as águas, as minhas lágrimas de lamento e saudade dos tempos idos.
Rio da vida que não corre mais primaveril e nem canta mais o grande amor de suas torrentes e não pode mais ir a mar.
E neste trânsito de polos parafráguas, entre ondas e vagas quase mortas e que quase desesperançadas, de navegar nos barcos de adeuses e de rio.
De onde para onde meu rio São Francisco? Para mais e menos infinitude e eternidade. (autoria: Luiz Dourado)”
Por Juciana Cavalcante
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