09/11/2017
Crise hídrica mostra sua face mais dura nas cidades do Submédio São Francisco
Vivenciando um dos piores períodos de estiagem já registrados, o Vale do São Francisco onde fica situado o maior lago artificial do Brasil, o reservatório de Sobradinho, no norte baiano, reúne, como em toda bacia hidrográfica, cenários de desolação com a crescente redução no volume de água. A formação de bancos de areia, o aumento das margens do rio, a diminuição dos peixes, problemas para o abastecimento humano e animal nas cidades, além do desafio para a irrigação das plantações são os problemas cada vez mais evidentes para todas as comunidades na região do Submédio São Francisco.
Nas cidades com alguma distância das margens do rio, os problemas com o abastecimento já são conhecidos desde o início do período seco, há cerca de 10 anos. Agora, além de acentuadas as dificuldades, as cidades ribeirinhas como Casa Nova e até a própria Sobradinho buscam novas alternativas para evitar colapsos no sistema que precisou ganhar novos metros de tubulações nos pontos de captação.
“O cenário é de devastação. Onde hoje podemos caminhar em solo firme, existia muita água, quase quatro metros de altura e a cena que nos deparamos agora é de muita tristeza. Este é o resultado não só da seca que nos assola há 10 anos, mas também da ausência de medidas continuas de preservação. Não temos mais tempo, precisamos revitalizar, ou em muito breve, não haverá mais rio”, afirmou o funcionário público Francisco Ivan de Aquino, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Lago de Sobradinho.
Assim como em Sobradinho, a cidade de Casa Nova também vem adotando medidas para continuar garantindo o acesso à água e acabar com o racionamento, com o qual a comunidade vive há algum tempo. “A cada recuo do rio, temos que colocar novos metros de tubulação. Atualmente o município tem se preparando para garantir uma rede de distribuição eficiente”, afirmou Amilton do Nascimento Souza, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).
Operando com uma vazão de 550 m³/s, o reservatório de Sobradinho que recebe em torno de 310 m³/s comporta apenas 3,6% do seu volume útil, segundo o último relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado em 19 de outubro. De acordo com o Diretor de Operação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique de Araújo Franklin Neto, o reservatório de Sobradinho poderá atingir o seu volume morto no final do mês de novembro, segundo a simulação realizada pelo ONS. “Considerando que o período úmido da Bacia do São Francisco inicia no mês de novembro, espera-se que, se for o caso de operar o reservatório no seu volume morto, será por curto intervalo de tempo”.
Embora haja uma perspectiva esperançosa em relação ao período de chuva por parte da companhia, os ribeirinhos seguem preocupados se esse volume será suficiente para minimizar os efeitos atuais da seca. Pessoas como o pescador Manoel Eduardo Souza, um dos poucos a resistir na profissão relata as dificuldades em viver apenas da pesca. “É cada vez mais difícil viver da pesca. Todos os anos vemos o rio secar ainda mais, formando ilhas onde antes só existia água. Muitos pescadores se viram obrigados a deixar seu ofício porque não tem mais peixe”.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) continua atuando para garantir do Governo Federal a execução imediata da revitalização, única forma viável para preservar e recuperar todo o leito do rio. “Precisamos sim discutir políticas públicas viáveis e que possam contribuir para a qualidade do rio e consequentemente para a quantidade de água e qualidade para atender os múltiplos usos”, concluiu o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Submédio São Francisco, Julianelli de Lima.
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Por Juciana Cavalcante
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