02/08/2017
No interior da Bahia, tecnologia social visa preservação do leito do Rio Branco
Texto e fotos: Fernanda Sodré Soares
Implantar tecnologias sociais coerentes com as realidades dos diversos municípios onde atua e atender as demandas das comunidades de forma ecologicamente correta é um dos principais objetivos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF).
Uma tecnologia é tida como social quando ela, além de fornecer meios técnicos para o desempenho de determinada função ou trabalho, atua no sentido de promover maior interação e transformação social. É um conceito contemporâneo que remete a uma proposta inovadora de desenvolvimento, baseada na disseminação de soluções para problemas essenciais como demandas por água potável, alimentação, educação, saúde, meio ambiente, entre outras. Esse tipo de tecnologia é, essencialmente, inclusivo, sustentável e de baixo custo, tendo como principal objetivo que a sua eficácia possa ser alcançada ou repetida por outras pessoas, permitindo que o desenvolvimento se multiplique entre as populações atendidas, melhorando a sua qualidade de vida.
Um bom exemplo disso é o projeto de Recuperação Hidroambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Branco, no município de Barreiras (BA), mais precisamente no Assentamento Ilha da Liberdade. Ali, a comunidade composta por trinta famílias assentadas desenvolve todas as suas atividades a partir da água extraída do rio, seja para molhar as pequenas plantações, dessedentação animal, consumo humano ou pequenos criatórios de peixes. Preocupados com os efeitos da intervenção humana ao longo dos anos nas margens do rio, os moradores do assentamento, por meio da Associação dos Moradores do Assentamento Ilha da Liberdade, demandaram um projeto ao CBHSF para implantação da tecnologia social Roda d’Água.
A Roda d’Água se baseia no princípio dos antigos moinhos e funciona de forma simples. Basicamente duas rodas com pás giram forçadas pela correnteza, gerando energia para motores que bombeiam água para reservatórios instalados em áreas afastadas do rio. A roda flutua sobre uma balsa com dois flutuantes e se mantém fixa por meio de cabos presos a uma haste chumbada nas margens do rio. A tecnologia foi aprimorada e confeccionada por Erivaldo Gomes Medeiros, mais conhecido como Ireca, um dos fundadores do assentamento e entusiasta do projeto implantado pelo CBHSF.
O projeto propõe proteger e revitalizar as margens do rio Branco dentro da área do assentamento e resolver de forma sustentável outras demandas da comunidade, como explica Ireca: “a Roda d’Água tem a capacidade de bombear cerca de 22 mil litros de água por dia. Essa água vai pros reservatórios que ficam em áreas cercadas e de lá os agricultores podem encher os bebedouros australianos para os animais ou utilizá-la para suas outras atividades”.
Os bebedouros australianos são reservatórios de 500 litros, feitos de zinco, abertos, para que os animais possam beber. Eles são abastecidos por reservatórios com capacidade de cinco mil litros que, por sua vez, recebem água do rio através das Rodas d’Água.
Seguindo o princípio das tecnologias sociais, o projeto criou um ciclo que visa sanar as demandas do assentamento e proteger as margens do rio. “Deus deu ao homem tudo de que ele precisa pra viver bem. Nos deu a natureza pra termos o que comer e o que beber e nos deu inteligência pra conservar isso. A nossa ideia, junto com o CBHSF, é empregar nossa inteligência em ações que prolonguem os benefícios dessa obra de Deus”, finalizou Ireca.
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