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10/10/2016

Ararinha-Azul

A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii, Wagler 1832) é uma ave rara, endêmica da Caatinga brasileira, atualmente considerada extinta na natureza e um símbolo da necessidade de proteção da vida selvagem e da biodiversidade do nosso planeta. Essas ararinhas apresentavam uma distribuição muito restrita, refugiadas nas matas de galeria dos pequenos afluentes temporários do rio São Francisco, localizados ao norte da Bahia, na divisa com Pernambuco. O município baiano de Curaçá se destacava como área de concentração dos remanescentes da espécie. A ararinha-azul foi descoberta no início do século XIX, na região de Juazeiro, pelos naturalistas Spix e Martius.

Foi descrita formalmente em 1832 pelo alemão Johann Wagler como espécie de pequeno porte, quando comparada com as outras araras conhecidas, medindo entre 55 e 60 centímetros de comprimento. A cauda é longa em relação ao corpo e as asas também são longas e estreitas. Seu voo é caracterizado por batidas lentas das asas. A coloração geral da plumagem é azul, mais escura na cauda e nas asas, que podem apresentar penas de voo pretas. A plumagem da cabeça é mais clara, azul-acinzentado, sendo mais esbranquiçada por baixo dos olhos. A íris dos olhos é de cor amarela. O bico é preto e delgado, porém forte o suficiente para quebrar sementes e abrir frutos duros de plantas da Caatinga. As ararinhas-azuis faziam seus ninhos em cavidades existentes nos troncos das grandes caraibeiras (Tabebuia caraiba), árvores imponentes das matas de galeria. Como as demais espécies da família, as ararinhas-azuis costumam ter um só parceiro durante toda a vida. Produzem dois ou três filhotes por ninhada. A ararinha-azul é uma ave classificada na família Pscitacidae, que reúne seis espécies de araras de maior porte (inclusive três espécies de araras-azuis do gênero Anodorhynchus, além da arara-amarela e de duas espécies de araras-vermelhas), assim como papagaios e periquitos. Essas aves encantadoras e de fácil domesticação sempre fascinaram a todos, nativos e estrangeiros, pela simpatia, elegância exótica e pelo colorido tropical. Digno de nota é o fato de os colonizadores europeus ornamentarem os primeiros mapas do Novo Mundo com desenhos de araras e papagaios.

O Brasil, aliás, chegou a ser indicado nesses mapas como Terra Papagalis, antes de ser “batizado” com nomes mais cristãos, a exemplo de Terra de Santa Cruz ou Terra de Vera Cruz, ainda no século XVI. Devido a sua raridade, a ararinha-azul sempre foi disputada por colecionadores. O desaparecimento da espécie na natureza é atribuído ao histórico de intensa captura dessas aves para o comércio ilegal e à perda de seus habitat naturais em face do desmatamento e processo de desertificação da Caatinga, mas também devido a impactos de outra ordem, causados por obras de grande porte, como a construção da barragem de Sobradinho, que pode ter inundado área considerável de habitat potenciais, essenciais para a sobrevivência dessas aves e de outras espécies ameaçadas da Caatinga. Apesar de a ararinha-azul Cyanopsitta spixii ter entrado no século XXI declarada como espécie extinta na natureza, ainda restam esperanças. Cerca de 130 indivíduos da espécie vivem em centros de recuperação especializados na reprodução em cativeiro, localizados no Brasil e em outros países, como o centro de Al Wabra, no Qatar. O governo brasileiro vem trabalhando com várias instituições parceiras do Projeto Ararinha na Natureza (), visando não apenas reintroduzir as aves no seu ambiente natural, mas, também, criar as condições necessárias à proteção da Caatinga brasileira, a fim de que as espécies ameaçadas possam se recuperar na natureza. Trata-se de um esforço coletivo de conservação, com o objetivo de implementar ações do Plano de Ação Nacional para conservação das ararinhas, coordenado pelo ICMBio, em linhas temáticas como Políticas Públicas, Pesquisa Científica e Educação Ambiental.

Outro sinal que reanima a esperança foi a reavistagem de uma ararinha-azul voando livremente na região de Curaçá, após mais de 15 anos de sumiço. O registro foi feito no dia 18 de junho de 2016, por moradores locais, que imediatamente se mobilizaram para localizar e proteger a ave, articulando apoio do ICMBio e da SAVE Brasil, reafirmando, assim, a importância do envolvimento e da participação qualificada das comunidades locais como protagonistas dos esforços de conservação da biodiversidade na bacia do rio São Francisco.

ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF

*Esta entrevista foi veiculada no Jornal Notícias do São Francisco nº 47. Para ler o jornal completo, acesse.

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