18/05/2017
Povo Pankará assina termo que garante construção de adutora para sua aldeia
Texto Vitor Luz e Fotos: Edson Oliveira
Após meia década de lutas, solicitações e muita ansiedade o povo Pankará finalmente conseguiu a liberação para construção de uma adutora para a aldeia Serrote dos Campos, município de Itacuruba, situado em Pernambuco. O termo técnico foi assinado na tarde desta quinta-feira (18 de maio), na XXXII Plenária Ordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), que aconteceu no hotel Golden Tulip, em Recife (PE).
Cícera Cabral é semi-cacique da Aldeia Serrote dos Campos e mora a nove quilômetros de distância do rio São Francisco, mas há muitos anos não corre água potável em sua torneira. O abastecimento hídrico em seu povoado se dá por meio de caminhões pipas, que sempre quando eles chegam a Cacique precisa fazer o gerenciamento destes recursos para 480 integrantes de sua comunidade. A indígena se recorda de seu passado não muito distante onde já passou mais de 15 dias sem água em casa e para fazer o leite de sua filha foi necessário ir de casa em casa pedindo um pouco de líquido para seus vizinhos. Mesmo encontrando-se a nove quilômetros do rio, seus dias são compostos por sequidão, irrigados pela ânsia de água.
A solicitação por intervenções na comunidade aconteceu há cinco anos quando o Comitê de Bacia Hidrográfica realizou um Seminário de Povos Tradicionais e desde então os Pankará sonham com água potável em suas casas e plantações. “O povo até hoje espera os avanços deste processo e sonham com a água potável dentro de sua comunidade. Não existe coisa melhor do que uma água boa para beber e cultivar nossa subsistência. Toda a minha comunidade está sonhando com esses avanços, deixei meu povo em casa e todos eles estão aguardando novidades, esperando que eu chegue lá com notícias boas e que eu possa dizer – dessa vez saiu -”, afirma Cícera.
Após a instalação desta adutora o povo Pankará poderá receber água potável em casa e não gastar mais com caminhões pipas. “Abrir a torneira e ter sua água é verdadeiramente um sonho, só em pensar que poderemos cultivar e vamos tirar nosso alimento da terra, já estamos muito felizes. O que plantamos hoje é irrigado pelas águas das chuva, quando chove, o que sempre nos deixa apreensivos, quando a chuva não vem”, confessa a vice-cacique.
Solenidade de assinatura do termo de cooperação com o povo Pankará, durante a Plenária do CBHSF realizada em Recife
Projeto
A realização do projeto da adutora acontece em parceria com o CBHSF, Agência Peixe Vivo, Ministério da Saúde e Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que é ligada a Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
“Estávamos aguardando que a Sesai se comprometesse em operar esse sistema e hoje estamos formalizando esse termo de cooperação, que consta as funções e compromissos de cada organização. Com essa assinatura poderemos dar sequência a todos os outros procedimentos para construção da adutora”, afirma a diretora de Integração da Agência Peixe Vivo, Ana Cristina da Silveira.
Após um levantamento realizado pela Peixe Vivo foi constato a viabilização do projeto na aldeia Serrote dos Campos, no município de Itacuruba. Uma empresa foi contratada para desenvolver um projeto de irrigação, saneamento e abastecimento de água que, após ser apresentado a comunidade local efoi aprovado. “Esse é um sonho muito antigo do povo Pankará, terem água potável para abastecer a comunidade e também água para fazer pequenas irrigações para ter sua subsistência. O próximo passo é dar início a fase de execução do projeto, onde as empresas vão concorrer a licitação e dentro alguns meses as obras serão iniciadas. É um processo lento, que exige vários passos, mas o resultado final vai beneficiar a todos desta comunidade”, afirma a diretora-geral da Agência Peixe Vivo, Célia Fróes.
Célia Fróes, diretora-geral da Agência Peixe Vivo, assina o termo de cooperação com o povo Pankará
Comitê
“Essa é uma grande conquista para o Comitê de Bacias, visto que o povo Pankará não tem acesso a água potável. O comitê priorizou esse projeto como demanda especial, onde fizemos um projeto básico, depois o executivo e hoje estamos assinando o acordo entre os órgãos. São projetos desse tipo que o CBHSF visa promover. Se não olharmos para isso, quem irá olhar?”, destaca o vice-presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio São Francisco, Maciel Oliveira.
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